sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

REFLEXÃO DE NATAL

POR UM NATAL FELIZ

Senhor, que neste Natal
renasça em mim a pureza
renasça em mim a beleza
da criança que um dia fui.
Que neste Natal brote em mim a certeza
de que a inocência continua viva,
em algum recanto dentro em mim preservada;
de que, apesar dos infortúnios,
das traições e dos desencantos,
não se apagou em meu coração
a chama da crença pura
de que é possível ser humano
com honestidade, com sinceridade
e, acima de tudo, com dignidade.
Senhor, que eu possa de novo olhar-me no espelho
que eu possa não ter um rosto de cera;
que eu possa não ter por face
uma máscara hipócrita
tão incorporada ao que restou de minhas feições verdadeiras
que não caia nem diante de mim mesmo.
Que eu possa olhar-me e ver-me
encarar-me sem desespero
apesar de toda dor e de toda alegria
de toda a vergonha e de toda honra
de toda a feiúra e de toda beleza
que se me venham a revelar
Que minhas lágrimas e meu riso possam brotar livres diante de mim mesmo;
que eu seja capaz de sentir, Senhor,
de experimentar em toda a plenitude
a aventura, a alegria e a dor
de ser gente, de ser humano.
E que eu não tenha a crença mesquinha,
ingênua e sem profundidade de que toda essa verdade
me abale a coragem, o brio e a elegância.
Que não me vista a arrogância dos tolos
mas a firmeza dos sábios
Que minha mão não seja mesquinha,
mas justa e forte.
E que eu saiba que a força,
que por vezes assume a face da dureza,
também se manifesta na tenacidade
e muitas vezes na flexibilidade.
Senhor, que neste Natal
eu possa ver Teu rosto
e reconhecer enfim o meu próprio;
que, nascendo em meu coração,
Tu me permitas renascer
e tornar-me simples e sincero,
capaz de amar e ser amado,
verdadeiro
e, enfim, feliz.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A CRÍTICA

Se não for feita com certo cuidado, a crítica tende a tornar-se uma maneira de intimidar, e até de punir o(a) parceiro(a). O que chamo de crítica feita com cuidado é uma crítica que procura não ofender e é construtiva para aquele que é criticado.
O melhor, contudo, é não criticar. Dificilmente a crítica não magoa. Por que não explicar, sugerir, questionar, ou mesmo pedir por favor? Penso que todas as vezes em que nos vem à mente uma crítica, deveríamos parar e nos perguntar qual a melhor maneira de passar a mensagem que desejamos transmitir sem sermos destrutivos para com o outro. Uma maneira de fazer isso é expressar os próprios sentimentos e não um julgamento da fala ou do comportamento do outro: “Sinto-me pressionado quando você faz/diz isso”, ao invés de “Você está me pressionando”, “Você vive me pressionando”, ou o pior “Você nunca perde uma chance de me pressionar”. Para dar uma resposta à fala ou ao comportamento do outro de maneira construtiva (e necessariamente não destrutiva), é melhor pensar em como expressar uma reação assertiva, e não punitiva, diante do que o outro disse ou fez. E o que é uma reação assertiva? É uma reação que não é agressiva nem passiva, que fala o que se quer dizer sem agredir o outro nem humilhar a si mesmo, sincera porém sensível, cuidadosa e, se possível, até mesmo carinhosa. Afinal, o objetivo não é apenas sinalizar ao outro que algo em sua fala ou em seu comportamento nos provoca dor ou desconforto? Como podemos manifestar isso de maneira coerente oferecendo-lhe dor e desconforto de volta? Por que não “dar a outra face” e apenas fazê-lo ver as consequências de seus atos como em um espelho? Pense nisso na próxima vez em que estiver prestes a criticar a pessoa que você ama.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CRISES

Um dos problemas conjugais que costumam precipitar separações é o fato de que quando chegam as crises, as pessoas pessam que elas não terão fim, que vão durar para sempre.
Se o casal não entrar em pânico e recorrer ao diálogo e, se necessário, à psicoterapia, muitos relacionamentos podem ser salvos.
Vale ressaltar que as crises são várias ao longo do tempo e que cada vez que uma delas é resolvida o relacionamento se torna mais agradável, mais fácil, mais sólido e mais estável. Enfim, só poderá usufruir de um relacionamento assim quem se dispuser a resolver os problemas e superar as crises quando elas surgem. Mas, para isso, repito, é fundamental a consciência de que uma crise é apenas uma crise, ou seja, algo passageiro – não é o fim do casamento nem o fim do mundo.
Muitas pessoas já se casam pensando “Se não der certo, a gente se separa.” E muitas vezes a primeira crise do relacionamento é entendida como o tal “Não deu certo”, e assim se vai mais um relacionamento que poderia ter sido feliz e duradouro.
Para resolver as crises, é necessário expor os problemas e fazer acordos viáveis para ambos os cônjuges. Às vezes, os primeiros acordos não funcionam e novos acordos têm que ser feitos. Mas sempre com o propósito de resolver a crise e não o de terminar um relacionamento, que está indo bem em vários outros campos, só porque surgiu uma dificuldade.
Essa visão das crises como momentos difíceis a serem superados é fundamental para o estabelecimento de um processo construtivo no casamento, o que leva à melhora progressiva do relacionamento e à agradável constatação de que somos cada vez mais bem sucedidos na relação.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

FELICIDADE SEGUNDO FERNANDO PESSOA

A FELICIDADE EXIGE VALENTIA

FERNANDO PESSOA

“POSSO TER DEFEITOS, VIVER ANSIOSO E FICAR IRRITADO ALGUMAS VEZES
MAS, NÃO ESQUEÇO DE QUE MINHA VIDA É A MAIOR EMPRESA DO MUNDO,
E POSSO EVITAR QUE ELA VÁ À FALÊNCIA.
SER FELIZ É RECONHECER QUE VALE A PENA VIVER
APESAR DE TODOS OS DESAFIOS,
INCOMPREENSÕES E PERÍODOS DE CRISE.
SER FELIZ É DEIXAR DE SER VÍTIMA DOS PROBLEMAS
E SE TORNAR UM AUTOR DA PRÓPRIA HISTÓRIA.
É ATRAVESSAR DESERTOS FORA DE SI,
MAS SER CAPAZ DE ENCONTRAR UM OÁSIS
NO RECÔNDITO DA SUA ALMA.
É AGRADECER A DEUS CADA MANHÃ PELO MILAGRE DA VIDA.
SER FELIZ É NÃO TER MEDO DOS PRÓPRIOS SENTIMENTOS.
É SABER FALAR DE SI MESMO.
É TER CORAGEM PARA OUVIR UM “NÃO”.
É TER SEGURANÇA PARA RECEBER UMA CRÍTICA,
MESMO QUE INJUSTA.
PEDRAS NO CAMINHO?
GUARDO TODAS,
UM DIA VOU
CONSTRUIR UM CASTELO... “

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DISTÂNCIA

A distância
é uma mão que acena
é um beijo lançado no ar
é a falta ardente do contato
da pele com a outra pele.
A distância
é dor
sofrimento
lágrimas
solidão.
Mas a distância também é
Lembrança de felicidade
Sonho de reencontro
Persistência
Força
Planos e luta
Promessa de futuro
Batalha por transformar
O sonho em realidade

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CIÚME

É natural sentir ciúme quando se ama e, de alguma forma, se vê ameaçada a exclusividade da relação a dois. Porém, esse ciúme pode ser resolvido se a cumplicidade do casal se impõe à situação. Contudo, quando um dos parceiros sente ciúme na falta de motivos reais, por meio de suspeitas e fantasias infundadas é insegurança que se manifesta: ou a insegurança devida à falta de confiança na própria capacidade de merecer o amor do parceiro, ou a insegurança devida à falta de confiança no parceiro. A falta de confiança na própria capacidade de se fazer amar revela baixa auto-estima e necessita de cuidados especiais. A falta de confiança no parceiro desafia a cumplicidade. Ou a pessoa não confia em um parceiro que merece confiança e precisa reder-se à realidade e assim restabelecer a cumplicidade; ou o parceiro realmente não merece confiança, e aí cabe questionar-se se esse parceiro merece ser amado, já que, por não ser confiável rompe os laços da cumplicidade e do amor. Se o parceiro merece confiança e não a recebe, pode-se questionar quem realmente está sendo traído: aquele que desconfia sem motivo real ou o que não recebe a confiança que merece. Se o parceiro não merece confiança, ou seja, não é digno dela vale questionar porque insistir na tentativa de manter um relacionamento amoroso com alguém com quem não se pode estabelecer cumplicidade nem construir um amor de verdade.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

AMOR E SACRIFÍCIO

Muitas mentes perversas se valem do argumento de que o amor não pode existir sem sacrifício para justificar abusos e atrocidades de todos os tipos. Esses são hipócritas, exploradores, que ousam fazer o mal “em nome do amor”.
Embora esta verdade seja muitas vezes tão mal interpretada e manipulada de maneira indecente, o amor requer, sim, a capacidade de sacrificar-se pelo outro. Essa capacidade é necessária, em primeiro lugar, porque para que o sentimento mereça o nome de amor é preciso amar o outro como a si mesmo. E amar como a si mesmo requer a capacidade de colocar-se no lugar do outro, de CON-VIVER com ele, de alegrar-se e de sofrer com ele. Em segundo lugar, porque o outro não é perfeito. Há que se tolerar suas falhas e seus defeitos. A única perfeição que pode ser atingida nesta vida pelo amor humano é o crescimento conjunto. E o crescimento conjunto requer apoio e ajuda mútuos. Suportar as dificuldades do outro e permitir que ele cresça em seu próprio ritmo é necessário. É a isso que chamo de “sacrificar-se pelo outro”. É importante, contudo, relembrar que esse movimento precisa ser recíproco.
Em certos momentos, ao longo da vida dos dois, um poderá chegar a sacrificar-se mais e o outro menos. Desde que o inverso aconteça em outros momentos, a troca é justa. Troca? Sim: troca, partilha, dar-e-receber. Aquele que ama precisa ser também amado para que exista o amor conjugal. Então é necessária uma troca constante de sacrifícios. Sacrifícios incluem tolerância, respeito pelas limitações e pelas dificuldades, respeito pelo ritmo de crescimento do outro, respeito pelas diferenças e idiossincrasias do outro.
Contudo, já que um necessariamente faz o outro sofrer e se sacrificar no processo do amor, há que se reconhecer o sacrifício alheio, há que se agradecer por ele, há que se pedir perdão por ele. Tudo isso como em uma dança: cada um a seu tempo, mas obrigatoriamente ambos se movimentando.
Quem almeja o ideal no relacionamento, precisa esforçar-se para tentar atingi-lo. Quem deseja que o outro seja cada vez melhor, precisa ser por sua vez também cada vez melhor, e precisa ajudar o outro a crescer.
Nisto consiste o crescimento conjunto: um crescimento no qual um ajuda o outro na medida de suas possibilidades, na medida de sua capacidade, em seu tempo e em seu ritmo próprios. Nenhum dos dois conseguirá jamais ser perfeito. Mas ambos precisam esforçar-se e ajudar-se mutuamente. Amar é isto: ter boa disposição de espírito, de mente e de comportamento para com o outro. Se ambos se doam, se ambos se sacrificam quando necessário, se ambos agradecem pelo sacrifício do outro, se ambos pedem perdão por fazer o outro sofrer... Enfim, se cada um ama ao outro como a si mesmo, se cada um procura crescer e ajudar o outro a crescer, se cada um aceita a ajuda do outro em seu processo de crescimento... aí o amor floresce.
Em meio ao riso dos prazeres e às lágrimas do sacrifício é que se cultiva o amor e se faz brotar a felicidade.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DISTANCIAMENTO EMOCIONAL

Apesar de amar seu/sua parceiro(a), a pessoa pode se manter emocionalmente distante dele(a), muitas vezes devido a “traumas emocionais” e/ou medo de rejeição. Essa pessoa não deixa o/a parceiro(a) estabelecer intimidade afetiva com ele(a). Nesses casos, a busca por textos esclarecedores e cursos que ensinem as pessoas a se relacionarem bem com o(a) parceiro(a) podem ajudar, mas muito frequentemente trata-se de uma situação na qual se faz necessária uma psicoterapia, que poderá envolver – de acordo com a avaliação do psicoterapeuta – a pessoa individualmente ou o próprio casal.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

AMOR, LIBERDADE E LIMITES

Amar é querer bem ao outro, querer o bem para o outro e fazer o bem ao outro... Mesmo que isto signifique abrir mão da presença do outro junto a nós. As pessoas que dizem que amam e querem forçar a presença e a companhia do outro, na verdade, não amam, e sim querem ser amadas. Amar de verdade é ser capaz, inclusive, de abrir mão do amor do outro se esta for uma condição para que o outro seja feliz. Esta é a verdadeira essência do amor: querer a felicidade do outro e agir de maneira coerente com isso. Ora, a felicidade do outro não depende de nossa vontade e sim do que é, intrinsecamente, bom para ele. Muita gente acha que sabe o que é bom para o outro sem nunca tê-lo consultado. Nisto consistem a arrogância e o egoísmo de querer impor a própria vontade ao outro sob o disfarce de amor.
Amar é querer tanto o bem do outro a ponto de desapegar-se dele se isto for necessário para que ele seja feliz. Amar exige, antes de tudo, liberdade de ambas as partes. O amor só é amor se é dado livremente, nunca sob coação. Não há como amar sem dar liberdade, inclusive a liberdade de ir embora, inclusive a liberdade de não corresponder ao amor - a liberdade de não querer amar. É por nos amar verdadeiramente que Deus nos concede o livre arbítrio. Como ousamos nós querer chamar de amor nosso próprio egoísmo que impõe ao outro a nossa vontade?
Não é possível, não há como propor, nem sugerir, nem justificar, nem de modo algum alegar que se ama alguém sem reconhecer e respeitar completamente a liberdade dessa pessoa.
Ao mesmo tempo em que o amor requer a plena e absoluta liberdade de amar, de ser e de se manifestar, sua concretização na vida das pessoas torna necessário o estabelecimento de limites. E o que vêm a ser limites? Limites, no sentido psicológico do termo, são exatamente o mesmo que no sentido concreto: elementos que definem as fronteiras dos territórios das pessoas. Isso mesmo: territórios – os territórios psicológicos das pessoas, os limites do eu. Não é possível amar verdadeiramente sem respeitar os limites do eu do outro. Nem é tampouco possível se deixar amar de maneira saudável sem fazer valer os limites do próprio eu. É por isso que o segundo grande mandamento do cristianismo é amar ao próximo “como a si mesmo”. Se quero o respeito do ser amado, preciso respeitá-lo; se quero consideração do ser amado, preciso ter consideração para com ele; se quero compreensão do ser amado, preciso compreendê-lo também. E vice-versa. O amor entre um casal precisa ser mútuo para ser digno do nome de amor.
Então quem será capaz de amar? Aquele que se esforça contínua e incessantemente para respeitar, compreender e ter consideração para com o outro. E quem poderá ser amado sem ser explorado, manipulado ou sofrer abuso físico ou moral? Aquele que tiver a capacidade de fazer valer seus próprios limites. O amor entre um casal é uma via de mão dupla: Não faz sentido dormir com o inimigo e dar a isso o nome de amor.
É claro que ninguém é perfeito. Ninguém consegue ser o amante ideal 24 horas por dia. Mas também não merece o nome de amor uma postura que não inclua um esforço constante, mesmo que às vezes não necessariamente contínuo, em busca do ideal do amor.
Amar e ser amado num relacionamento conjugal é tentar ser a cada dia um parceiro melhor para o outro e receber do outro o mesmo esforço e a mesma boa vontade. Por isso não existe amor sem limites, mas também não há amor sem plena liberdade.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

GRATIDÃO

Gratidão é um sentimento de boa disposição associado a um desejo de retribuição direcionado a uma pessoa que nos fez ou nos faz algum bem. Penso que ninguém pode nos fazer bem maior do que amar-nos genuinamente exatamente como nós somos. Não falo do amor como um sentimento apenas mas como uma atitude, uma maneira de sentir e de se comportar para com outra pessoa. Neste sentido, quem ama não apenas sente uma emoção agradável diante da presença ou da simples lembrança do outro, mas também age para o bem daquele que é amado. Se amar então é querer bem e fazer o bem, é natural que o amor desperte na pessoa amada um sentimento de gratidão. Quando falo do amor que existe entre um casal, considero que esse sentimento-atitude-comportamento é correspondido e mutuamente cultivado. Como não sermos então gratos(as) àquele(a) que nos ama? Como pode um casal que se ama viver sem sentir e expressar essa gratidão? Quando foi a última vez que você agradeceu a seu/sua parceiro(a) pelo amor que ele/ela lhe dedica? Quando foi a última vez que você agradeceu a ele/ela por existir, por fazer parte de sua vida, pela presença dele/dela a seu lado? Quando foi a última vez que você agradeceu a ele/ela pelas palavras meigas, pelo carinho, pela sinceridade e pela fidelidade que ele/ela lhe dedica? Quando foi a última vez que você agradeceu a ele/ela pelas obrigações cumpridas, pela dedicação, pela cumplicidade? Se você não disse até agora, já é mais do que hora de dizer, e repetir a cada dia, essa palavrinha mágica: Obrigado(a)! O amor não é uma obrigação. O amor é gratuito. O amor é uma dádiva. E todas as ações realizadas por amor – até mesmo o cumprimento de certas “obrigações” – são dádivas. O amor só existe quando é dado livremente. Por isso merece um perene agradecimento. O amor de cada dia merece ser agradecido a cada dia, inclusive nos fins-de-semana e feriados, inclusive no dia dos namorados. Que tal começar hoje a agradecer pelo amor que você recebe de seu/sua parceiro(a)? Romantismo? Sim, romantismo sim! Seja grato(a), seja romântico(a), pois é o romantismo que fortalece o amor e alimenta a paixão! E não há nada melhor, não há nada mais digno do nome de felicidade, do que a coexistência do amor, da paixão e da cumplicidade entre um casal.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DICA DE LIVRO

Para você homem que deseja conhecer-se melhor, e para você mulher que deseja conhecer e compreender melhor os homens, indico "POR QUE OS HOMENS SÃO ASSIM?" de Steve  Biddulph, publicado no Brasil pela Editora Fundamento.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O PARCEIRO PERFEITO

O parceiro perfeito
não é um ser sem defeitos
nem a pessoa ideal.
O parceiro perfeito
é aquele que ama e se deixa amar;
é aquele que aprende junto com a gente;
que não mente;
nem nega sua fragilidade tão humana.
O parceiro perfeito é amigo, antes de tudo;
Esforça-se para melhorar
e cada vez menos magoar.
O parceiro perfeito se dedica
ao próprio desenvolvimento
e ao aperfeiçoamento da relação.
O parceiro perfeito não é perfeito;
não é aquele que sempre tem razão;
ele é gente como eu e você:
apenas ama, faz o que pode
e não tem medo de crescer.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

NA DEFENSIVA

Ficar na defensiva é reagir à abordagem do outro como quem se sente atacado e contra-atacar. É achar que o outro está invadindo sua praia, seu território, e atacar o “invasor”.
No casamento, a atitude defensiva costuma resultar em um verdadeiro desastre, pois impede completamente a formação do elo mais importante entre o casal: a cumplicidade.
Como posso ser cúmplice de alguém que considero meu inimigo?
Como chegar a um acordo se acho que estou sendo atacada?
Como entender o ponto de vista do outro se acredito que sua intenção para comigo é má?
A atitude defensiva precisa ser substituída por uma atitude acolhedora. A atitude acolhedora consiste em receber o comportamento do outro simplesmente como uma expressão da pessoa dele e tentar compreender seu significado. O interesse genuíno pode ser a palavra chave nesses casos. O que será que o outro quer realmente dizer? Será que entendi direito a mensagem do outro? O que posso fazer para ajudar a esclarecer a situação?
Essa tentativa de esclarecer a situação costuma ser incompatível com a atitude defensiva da parte de quem se sente atacado e descontruí-la, e fazer o outro sentir-se acolhido.
Quando um dos parceiros diz:
- Ai! Você pisou no meu pé.
Se o outro parceiro estiver na defensiva, reagirá dizendo coisas como:
- Não foi culpa minha! Você é que estava no lugar errado!
Se o outro parceiro não estiver na defensiva, poderá dizer:
- Oh, me desculpe. Foi sem querer. Sinto muito mesmo. Machuquei você?
Se o parceiro ofendeu você, buscar esclarecimento sobre o significado do que ele disse ou fez, ao invés de contra-atacar (ou “dar o troco”) é uma maneira eficaz de não ficar na defensiva, e até de desarmar um possível ataque. Este é o verdadeiro significado do conselho de Jesus de “dar a outra face”.
- O que você quer dizer com isto?
- Qual é mesmo sua opinião a esse respeito?
É claro que as palavras e frases precisam ser também articuladas em uma entonação não defensiva. Uma entonação de interesse genuíno, até mesmo de curiosidade, de investigação, de desejo de compreender. Uma entonação que transmita o desejo de simplesmente esclarecer as coisas.
Quando queremos genuinamente entender o outro e esclarecer os mal entendidos, saímos naturalmente da atitude defensiva para uma atitude compreensiva e acolhedora.
O velho ditado que diz que “violência gera violência” também é válido nesses casos. Quando a gente fica na defensiva, o outro provavelmente se sentirá acusado de ter feito um ataque e tenderá a contra-atacar. E pronto: está armada uma briga, cujo resultado serão ofensas mútuas, ressentimento e quebra da cumplicidade. E, para parar uma briga, alguém precisa sair da atitude defensiva e procurar compreender o outro.
Quando ambos os parceiros procuram manter uma atitude de abertura e compreensão um para com o outro, aí temos um poderoso antídoto contra a atitude defensiva. A confiança mútua de que um nunca tem a intenção de ferir o outro pode ser o segredo para se chegar a essa atitude. Confiança mútua e cumplicidade são exatamente o oposto da atitude defensiva. O amor, a compreensão, a boa intenção e o acolhimento são os ingredientes da poção mágica da boa convivência com o(a) parceiro(a).
Amar é desejar sempre o bem do outro. Se um não ataca o outro ou se, mesmo achando que pode estar sendo atacado, um não se defende do outro, está aberto o caminho para o diálogo e para a compreensão.
E se um escorregar de mal jeito e cair na atitude defensiva? Nesse caso, nada melhor do que um sincero pedido de desculpas por parte deste e uma generosa dose de perdão por parte do outro.
Não adianta, não basta apenas amar. É preciso compreender, cuidar e ter cumplicidade para construir um relacionamento sincero, maduro e gostoso. Não basta apenas amar. É preciso cultivar o amor. E o cultivo do amor tem por base a boa intenção, a humildade necessária para pedir desculpas quando for preciso, a generosidade para perdoar o outro que está arrependido e, acima de tudo, a disposição para dialogar.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

NÃO É O AMOR

O amor não julga.
O amor não fere a auto-estima do outro.
O amor não projeta no outro as próprias falhas.
O amor não manipula.
O amor não induz vergonha, nem medo, nem sentimento de inadequação.
O amor não usa o outro.
O amor não abusa do outro, nem física nem moralmente.
O amor não ataca.
O amor não agride.
O amor não cobra o que não é justo.
O amor não é covarde.
O amor não intimida.
O amor não mente nem distorce.
O amor não confunde.
O amor não menospreza.
O amor não humilha.
O amor não desrespeita a individualidade
nem invade os limites do outro
Se você se pegar fazendo uma dessas coisas
saiba que, por mais que você ame
ou pense que ama a pessoa a quem você assim ofende,
não é o amor que dá origem a tais ações;
não é o amor que o motiva nesse momento,
mas algum outro sentimento
dos tantos que habitam a alma humana.
Quem sabe o medo?
Quem sabe a inveja?
Quem sabe a ira?
Quem sabe o desejo de controle?
Quem sabe uma má intenção velada
que conspira nesse instante
e corrompe o seu coração,
e distorce a sua ação?
É possível ao que ama,
por não ser perfeito,
contradizer-se
e fazer mal àquele a quem deseja o bem.
Mas justificar o mal alegando amor é uma inverdade
E fazer o mal “em nome do amor”, uma atrocidade.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

PARA REFLETIR

Os sonhos são nossos guias, nossas estrelas.. inatingíveis, mas muito úteis, e mesmo indispensáveis, para se seguir no caminho da vida.
Marilene Mazza

segunda-feira, 5 de julho de 2010

LEITURA MENTAL

Em seu livro “Love Is Never Enough”, Aaron T. Beck, o criador da Terapia Cognitiva, escreve sobre a leitura mental. Segundo Beck, a tentativa de “ler” a mente do(a) parceiro(a) dá à pessoa uma falsa sensação de segurança gerada por conclusões errôneas que pode causar grandes problemas. Beck afirma ainda que, ao interpretar erroneamente o comportamento dos parceiros, as pessoas costumam gerar no relacionamento exatamente aquilo que mais temem.
Podemos descrever a “leitura mental” como a tentativa de deduzir o pensamento do outro com base em sinais corporais externos. É claro que os gestos e posições das pessoas podem sugerir algo sobre suas posturas e intenções. O problema é que os parceiros levam isso ao extremo, e acham que sabem o que o outro está pensando. Eles acham que “conhecem” os parceiros e “sabem” o exato significado dos sinais corporais do outro. Então cada um associa a determinados gestos ou posturas do outro exatamente as mensagens que mais temem receber, como: “Ela está me olhando desse jeito porque está me reprovando”, “Olhou para o relógio porque não está interessada no que estou falando”, “Ele não se importa mesmo com nada do que quero lhe falar sobre minha carreira”, “Ele está pensando que sou mesmo uma idiota”... E assim por diante. Na maioria das vezes, como já era de se esperar, essas conclusões não têm nada a ver com a verdade interna do outro, mas sim tudo a ver com os medos e ansiedades daquele que está “projetando pensamentos na mente do outro”, ou seja, fazendo a “leitura mental”. Qual é o remédio: perguntar o que o outro realmente está pensando no momento. Quanto mais perguntas e respostas sinceras entre os parceiros, menores as chances de confusão e desentendimento.
O pior da “leitura mental” é que cada um vai fazendo suas deduções sem fundamento e as fantasias vão se acumulando, até que toda uma trama de desentendimento se forma; e ambos os parceiros ficam carregados de ressentimentos por coisas que, na verdade, nunca aconteceram.
Um dos aspectos mais fascinantes do relacionamento amoroso é justamente o fato de que estar diante da pessoa amada é ter o privilégio de entrar em contato íntimo com um ser de possibilidades infinitas que, além disso, é, na verdade, um devir (um vir a ser). Portanto, não nos cabe fazer adivinhações sobre o que esse ser está pensando, mas sim mergulhar cada vez mais na descoberta do mesmo por meio do diálogo. O diálogo, que envolve componentes verbais e não verbais – mas não adivinhações -, é a ferramenta maravilhosa por meio da qual podemos aprofundar cada vez mais o conhecimento mútuo e extasiarmo-nos ao longo da vida inteira com as infinitas possibilidades de nosso amor.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

FANTASMAS DO PASSADO

Alerta para que este texto não seja utilizado para justificar falhas por parte de pessoas que não querem se dar a conhecer como realmente são: Este texto não foi escrito para pessoas que mal se conhecem, que começaram a namorar recentemente ou que têm dúvida se cada uma é a pessoa certa para a outra. Este texto foi escrito para casais que têm certeza de que se amam e não apenas estão apaixonados.

Quando nós nascemos, talvez antes ainda, em algum momento... talvez a partir do instante em que somos concebidos, nos tornamos alvo das coisas que acontecem no mundo a nossa volta. O mundo muda e as mudanças repercutem sobre nós. A cada nova divisão celular somos influenciados por inúmeros fatos que acontecem em torno de nós. À medida em que nos desenvolvemos, somos afetados pelo ambiente. E ao longo de toda a nossa vida nosso organismo se desenvolve como resultado de uma dança misteriosa que combina as tendências genéticas com os fatores ambientais. Nosso sistema nervoso é a parte de nosso corpo que mais precisamente registra esses fatos. Nossos sentidos se desenvolvem e se aperfeiçoam, e fornecem a nosso cérebro dados cada vez mais precisos. Em algum momento, talvez desde o início, nossas interações com as pessoas tornam-se a tônica de nossa vida. Se somos cuidados ou destratados, amados ou detestados, ou, pior, ignorados... tudo é registrado em nossas mentes. Com o tempo aprendemos a reagir: tocar, chorar, gritar, sorrir e, enfim, falar; e em nossas mentes também ficam gravadas nossas reações às ações de outras pessoas. Nosso mundo interno vai-se construindo com lembranças à medida que o tempo passa. As pessoas que tocam nossa vida deixam marcas muitas vezes indeléveis. Algumas muito boas, outras não tão boas, e outras muito ruins. Somos o centro de uma história: a história de cada um de nós. Nossos pais são as figuras próximas mais importantes nesse cenário. Amor e carinho fazem-nos guardas lembranças felizes; ofensas e humilhações inundam nossa mente de dor. Tudo fica registrado. E nós crescemos, e nos desenvolvemos, e carregamos conosco essa história. Nela, pessoas importantes para nós desempenham papéis: irmãos, tios, primos, conhecidos, amigos e inimigos... Nosso cérebro registra as interações com cada um deles. Assim se constrói nossa história com seus diversos personagens. Dentre esses personagens, alguns nos encantam e suas lembranças nos despertam sentimentos agradáveis. Outros nos são indiferentes. Outros ainda nos despertam sentimentos ruins e suas lembranças nos assombram como visões de fantasmas. Essa história e seus personagens é carregada conosco para onde quer que vamos, passa a fazer parte de nós. À medida em que conhecemos novas pessoas, nelas vislumbramos traços, semelhanças com os personagens de nosso passado mais remoto. Quando encontramos o amor, nenhum dos parceiros chega sozinho. Cada um carrega consigo sua história com todos os seus personagens, e com eles os ecos de nosso passado. E ao longo da convivência vamos percebendo também no ser amado semelhanças com os personagens de nossa história: alguns bons, alguns maus. Em momentos de encantamento, identificamos na pessoa amada características positivas desses personagens. Mas quando surgem os desentendimentos, gestos e palavras da pessoa amada podem despertar em nós fantasmas há muito adormecidos. Uma mentira evoca em nós as lembranças de tantas vezes em que já fomos enganados; uma palavra rude pode evocar lembranças de diversos momentos em que fomos agredidos. Assim, uma pequena falha da pessoa amada pode evocar a lembrança de inúmeras falhas de pessoas que já passaram por nossa vida, ou até mesmo de falhas de pessoas de quem apenas ouvimos falar. Isso pode virar uma bola de neve quando a um pequeno erro da pessoa amada somamos as lembranças de erros semelhantes que foram cometidos contra nós e as lembranças de outros erros do mesmo tipo sobre os quais lemos ou apenas ouvimos falar. Assim, uma pluma de pecado pode acabar pesando uma tonelada quando projetamos na pessoa amada os fantasmas de nossa história de vida. Nesse caso podemos ver em um parceiro bem intencionado um monstro inspirado nas projeções dos fantasmas de nosso passado. Precisamos ter cuidado com essas situações. Uma palavra atravessada do outro pode evocar a dor e a raiva de todas as agressões sofridas no passado. Para exorcizar os fantasmas do passado muitas vezes é necessária psicoterapia. No dia a dia, um pedido de desculpas da parte de um, um pouco de compreensão da parte do outro, uma boa dose de amor de ambas as partes e um diálogo esclarecedor podem desfazer os mal-entendidos, aliviar o sofrimento e fazer passar a dor.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

PERDOAR E PEDIR PERDÃO

Desta vez escreverei sobre um assunto que diz respeito não somente ao casal, mas à família inteira: o perdão na convivência familiar.
Quando era criança, muitas vezes ouvi pessoas citarem um velho e cínico ditado que dizia que “amar” era “nunca ter que pedir perdão”. Eu já digo que é impossível amar sem pedir perdão, ser perdoado e perdoar.
Quando se fala em perdão é muito comum enfatizar-se a necessidade de que a pessoa ofendida perdoe seu(s) agressor(es). É interessante, mas parece que é muito mais fácil ficar sempre do lado do mais forte do que do mais fraco. É sempre mais fácil defender o agressor do que o agredido. Muitas vezes as pessoas chegam mesmo a acusar a parte lesada por não dar o seu perdão a um agressor... que nunca lhe pediu perdão. É muito fácil agredir e depois envolver-se na capa protetora do orgulho e, ao invés de pedir perdão, reivindicá-lo como um direito e, até mesmo – como escrevi acima – acusar o outro por não conceder gratuitamente seu perdão.
É interessante como é comum entre os pais passarem uma vida inteira agredindo um(a) filho(a) e quando chega a velhice e as pessoas precisam ser cuidadas, quererem ser perdoados e cuidados sem nunca pedir perdão. Não estou defendendo que os filhos se vinguem dos pais na velhice, mas quem magoou e feriu deve assumir as conseqüências de seus atos. Daí a necessidade de pedir perdão.
O PERDÃO É A ÁGUA PURA QUE LIMPA AS ENTRANHAS DOS RELACIONAMENTOS E AMORTECE OS ATRITOS ENTRE AS PESSOAS. Ele deve ser dado. Mas, em primeiro lugar, ele deve ser pedido. Pois aqueles que querem receber o perdão sem nunca tê-lo pedido são, na melhor das hipóteses, covardes – frequentemente, hipócritas orgulhosos. São agressores que querem dar o mal e receber o bem sem assumir a devida responsabilidade por suas ações.
Um pedido de perdão sincero é um bálsamo curativo depositado sobre as feridas daqueles que foram ofendidos. Mas é preciso ter coragem e humildade para pedir perdão. Essa é uma tarefa que poucos têm estrutura para assumir. Quantos anos de psicoterapia poderiam ser poupados se os familiares que se agridem pedissem perdão uns aos outros. Quanta dor e quanto sofrimento não poderiam ser aplacados pelas singelas palavras “Me perdoe”, “Desculpe-me”. Mas muito frequentemente os agressores querem assumir o papel de vítimas e, além de agredir, fazer o agredido sentir-se duplamente culpado: por ser agredido (Incrível!) e por não os perdoar gratuitamente.
A estratégia de imputar a culpa pela agressão à vítima deve ser tão antiga quanto o surgimento da linguagem. Para aplacar a própria consciência e não sentir o fio da navalha da autocrítica, muitos dizem “Ele/Ela ME FAZ FICAR ZANGADO E AGREDI-LO(A).” Assim a culpa pela própria agressividade é atribuída ao outro, a raiva é “justificada”, e o agressor pode escapar impune até de sua própria consciência... e ainda reivindicar o “direito” de ser perdoado. E essa hipocrisia parece ser legalizada pela própria sociedade. É conveniente deixar que os fortes subjuguem os fracos, que os agressores se defendam e acusem as vítimas. As pessoas em geral têm medo dos agressores. Por isso é mais seguro ficar do lado deles do que das vítimas. É mais fácil dizer a estas últimas “Perdoem” do que aos primeiros “Peçam perdão”. Como dizem, “a corda costuma romper-se do lado mais fraco”, então é melhor ficar ao lado do mais forte.
Pedir perdão e perdoar significa aceitar conviver com as pessoas e conosco mesmos como somos: imperfeitos. E esta é uma realidade que precisamos aceitar: não tem como ser perfeito para merecer ser amado. Para amar, neste mundo de seres imperfeitos, portanto, a gente precisa pedir perdão e perdoar - para poder conviver bem com os outros... e até consigo mesmo. Perdoemos, então, e, acima de tudo, peçamos perdão. E que a capacidade de pedir perdão seja tão valorizada entre nós quanto a capacidade de perdoar. Pois pedir perdão é um ato que envolve a verdadeira coragem, a verdadeira força – a força moral, a capacidade de perceber e enfrentar as próprias imperfeições.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

DICA DE VÍDEO

CASAMENTO E PODER: QUEM DEVE MANDAR NO CASAMENTO?

Uma questão milenar é da hierarquia entre homens e mulheres. Por incrível que pareça, ainda hoje, em pleno século XXI ainda existem pessoas que acreditam ao pé da letra na frase “Os 'HOMENS' são todos iguais”; isto é: “Os homens são iguais uns aos outros; as mulheres... são inferiores”. Tem gente que apela para tudo, até para o nome de Deus. Como se já não bastassem as inúmeras atrocidades que já foram cometidas “em nome de Deus”, ainda há quem apele para a Bíblia para defender o machismo. Aqueles que vestem a carapuça que me desculpem, mas é muita falta de inteligência. Ainda bem, que já existem evidências científicas de que essa crendice faz mal ao casamento. Um estudo da Universidade de Washington, coordenado pelo Prof. Dr. John Gottman, mostrou que quando os maridos recém-casados demonstram interesse em serem influenciados pelas esposas e em dividir com elas o poder, os casamentos são mais felizes e estáveis. O estudo acompanhou 130 recém-casados por 6 anos para estudar as maneiras pelas quais os casais interagem que podem levar ao divórcio. O efeito da disposição do esposo a aceitar a influência de sua esposa é um importante fator preditivo de sucesso para um casamento. Portanto, os homens que são capazes de aceitar as opiniões e sugestões de suas esposas têm maior probabilidade de manter um relacionamento de sucesso. Só que, na minha opinião, falta muitas mulheres acreditarem nisso e escolherem casar-se com os príncipes ao invés de com os lobos-maus. Se o comportamento de escolha de parceiros da maioria das mulheres melhorasse, logo os comportamentos machistas deixariam de vigorar no universo masculino. Afinal de contas, infelizmente, esta me parece ser a razão pela qual as mulheres já fizeram tantas conquistas na vida profissional e não na vida pessoal: a maioria delas continua a se deixar levar puramente pela emoção ao escolherem seus parceiros, confundindo paixão com amor. Quando acham que “amam” determinados homens, as mulheres acabam se submetendo a todo tipo de exigência absurda “em nome do amor”; e só muito mais tarde, quando já não agüentam mais, aprendem a lição.
Infelizmente, esse aprendizado tardio não parece ser transmitido às gerações posteriores: as mães continuam educando seus filhos para serem machões dominadores e suas filhas para serem garotinhas submissas. Os homens decentes que o digam: continuam a ser rejeitados como parceiros diante do entusiasmo da maioria das adolescentes pelos garanhões contumazes.
Ao que parece, é mesmo verdade a crença – rotulada por muitos de pessimista - de que a humanidade só evolui tecnologicamente e nunca moralmente.
Enquanto essa dura realidade não mudar, o comportamento dos “machões” e “conquistadores” será estimulado pelo comportamento da maioria das mulheres... Os homens não mudarão... E esta vida será menos feliz para as mulheres.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

DICA DE LIVRO

MULHERES INTELIGENTES, ESCOLHAS INSENSATAS - Connell Cowan e Melvyn Kinder, Ed. Rocco.
Se você é daquelas mulheres que só consegue se interessar pelo “lobo mau” e não pelo “príncipe”, ou se você está cansada de beijar “príncipes que viram sapos”, indico-lhe este livro. É um livro muito interessante que meche com a cabeça da gente e ajuda a identificar padrões de comportamento indesejados e a mudar.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

CASAMENTO FAZ BEM? QUANDO E PARA QUEM?

Afinal de contas, o casamento faz bem? Esta é uma pergunta que tem sido feita por muitas pessoas e também uma questão investigada por cientistas. Muita gente que namora tem dúvidas sobre se vale a pena casar; e alguns até dizem que casar, ou ir morar juntos, estraga o relacionamento. E aí?
Alguns estudos avaliaram os níveis de satisfação de relacionamentos de casais de acordo com questionários padronizados que incluem questionamentos como: satisfação com o tanto de tempo passado juntos, comunicação, atividade sexual, concordância sobre questões financeiras, similaridade de interesses, estilo de vida e temperamento.
Os resultados podem ser considerados, no mínimo, interessantes.
Segundo um estudo da Universidade da Califórnia liderado por Darby E. Saxbe, mulheres mal casadas não se recuperam bem do estresse ao final do dia: seus níveis de cortisol (hormônio cuja liberação pelas glândulas adrenais aumenta com o estresse) não baixam quando elas chegam em casa no fim do dia, ao contrário do que acontece com mulheres bem casadas e com os homens casados. Níveis cronicamente elevados desse hormônio estão relacionados à maior incidência de depressão, síndrome de “burn out”, síndrome de fadiga crônica, problemas de relacionamento, ajustamento social ruim e, possivelmente, câncer.
Um outro estudo, da Universidade de Utah, liderado por Nancy Henry, descobriu que mulheres que estão envolvidas em casamentos muito estressantes têm maior probabilidade de se sentirem deprimidas e sofrer de pressão alta, obesidade abdominal, altos níveis de açúcar no sangue, altos níveis de triglicérides e baixos níveis de HDL (o “bom colesterol”) - fatores de risco para doença cardíaca, AVC e diabetes. Os homens envolvidos nesse tipo de casamento também estão mais propensos a se sentirem deprimidos, mas não têm maior probabilidade de alterações fisiopatológicas.
Um estudo da Associação Americana de Psicologia realizado por pesquisadores da Universidade de Pittsburg mostrou que o relacionamento conjugal parece ser benéfico para as mulheres, mas apenas quando o nível de satisfação conjugal é alto. As mulheres envolvidas em casamentos caracterizados por altos níveis de satisfação apresentavam vantagens em termos de saúde quando comparadas com participantes envolvidas em casamentos caracterizados por baixos níveis de satisfação e com mulheres não casadas (solteiras, viúvas ou divorciadas): essas vantagens incluíam níveis mais baixos de fatores de risco biológicos e de estilo de vida que favorecem o surgimento de doenças cardiovasculares, além de níveis mais baixos de fatores de risco psicossociais para doenças cardiovasculares - tais como depressão, ansiedade e raiva. As mulheres envolvidas nos relacionamentos altamente satisfatórios também mostraram essas mesmas vantagens quando comparadas com mulheres envolvidas em relacionamentos moderadamente satisfatórios, mas em menor extensão. Assim, de acordo com o estudo, a qualidade do relacionamento conjugal poderiam influenciar fatores de risco metabólicos e respostas agudas ao estresse, os quais podem ser utilizadas na previsão de morbidade e mortalidade cardiovascular.
Um outro estudo da Associação Americana de Psicologia realizado na Faculdade de Medicina da Universidade do Estado de Ohio avaliou os níveis de hormônios ligados ao estresse e revelou que a qualidade dos relacionamentos pode afetar a saúde. Segundo esse estudo, encontros positivos reduzem as reações ao estresse e influenciam a longevidade do relacionamento, especialmente para as esposas. Sabe-se que encontros desagradáveis podem evocar fortes reações fisiológicas e podem prejudicar a saúde de uma pessoa que seja exposta a eles por um longo período de tempo. Mas, as interações positivas têm o efeito oposto. De acordo com o estudo, o exame das alterações hormonais que indicam o nível de estresse em relacionamentos positivos. Os níveis de cortisol aumenta com emoções negativas mas não com emoções positivas. Segundo esse estudo as alterações nos níveis de cortisol são influenciadas pela “linguagem emocional” das mulheres e dos homens.
A maior parte dos homens avaliados mostrou queda dos níveis de cortisol ao descrever seus relacionamentos e utilizou mais palavras positivas quando contaram a história de seus relacionamentos em comparação com os homens cujos níveis de colesterol permaneceram constantes ou aumentados. Por outro lado, mulheres cujos níveis de cortisol diminuiu usaram menos palavras negativas ao descrevem seus relacionamentos conjugais. Mas as mulheres que descreveram seus relacionamentos com palavras negativas apresentaram níveis de cortisol muito mais altos do que os dos homens que estavam passando pelos mesmos eventos negativos. Essas diferenças entre as reações das esposas, mas não dos esposos, ainda apresentavam correlação com o estado de seus relacionamentos 8 a 12 anos depois. As mulheres cujos níveis de cortisol aumentava quando elas contavam sua história conjugal mais cedo apresentaram uma maior probabilidade de estarem divorciadas uma década depois. De acordo com esse estudo, o casamento tem custos e benefícios diferentes para a saúde de mulheres e homens.
Diante de todas essas informações, penso que um relacionamento altamente satisfatório, nos termos descritos no início deste texto, faz bem para mulheres e homens. Mas, parece que quando as coisas não dão muito certo, as maiores prejudicadas são as mulheres. Talvez por isso sejam elas as primeiras a procurar ajuda e a aceitar uma terapia de casal quando as dificuldades surgem. Não acredito, contudo, que falte aos esposos interesse em seu próprio bem estar e no bem estar de suas esposas, principalmente em termos de saúde, e creio que à medida em que cheguem ao conhecimento destas questões, eles se interessarão cada vez mais pela melhora do relacionamento. Textos esclarecedores, a ajuda de amigos e a terapia de casal são instrumentos que podem ajudar os parceiros a restabelecer a harmonia que os uniu quando se apaixonaram um pelo outro. Portanto, divulgar informações e investir na melhora do relacionamento também é algo que faz bem a mulheres e homens.
Quanto às mulheres que ainda estão escolhendo seu parceiro, fica o meu conselho: sejam exigentes em termos de qualidade de relacionamento. Afinal, é a saúde de vocês que está em jogo. Para os homens que ainda estão escolhendo suas parceiras, digo que nunca é cedo para se interessarem pelo tema da qualidade do relacionamento. Como já disse em outros textos, acredito que o namoro não é apenas um momento de se deixar levar pela emoção, mas também de usar a razão e estabelecer os fundamentos de uma relação que beneficie, engrandeça e traga felicidade a todos os que nela forem envolvidos – inclusive os filhos que o casal possa vir a ter.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

DICA DE CONVIVÊNCIA

No que somos semelhantes, procurar dar apoio;
no que somos diferentes, procurar dar compreensão e espaço para o outro se expressar.
Compartilhar a felicidade nos momentos de alegria,
cooperar nos momentos de luta
e apoiar um ao outro nas dificuldades.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

NAMORO, EMOÇÃO E RAZÃO II (“NA ALEGRIA E NA TRISTEZA”... E EM TODOS OS MOMENTOS)

Uma das questões mais relevantes concernentes ao uso da razão durante o namoro é: Como saber se aquela pessoa que você julga ser um(a) bom/boa namorado(a) será um(a) bom/boa esposo(a)? Talvez se conseguíssemos encontrar a resposta correta para esta pergunta pudéssemos prever se um determinado namoro resultaria ou não em um casamento feliz.
Um estudo da Universidade Northwestern, chefiado pelo pesquisador Daniel Molden, tentou responder a uma questão importante envolvida nesse processo.
O estudo sugere que as pessoas que pretendem se casar deveriam refletir melhor sobre o tipo de suporte de que elas vão precisar durante o casamento e avaliar melhor se o(a) namorado(a) que apóia seus sonhos de realização está pronto para compartilhar com elas as agruras das obrigações.
Os namorados se preocupam bastante com a capacidade e a boa vontade dos parceiros em apoiar seus projetos e realizações. Este costuma ser um critério importante para a escolha de um(a) bo(a) namorado(a). Contudo, depois de casadas, as pessoas não se satisfazem com este critério para definir o que seria um/uma bo(a) esposo(a). Para as pessoas casadas, um outro critério importante é a capacidade e a boa vontade dos parceiros em apoiá-las e, na medida do possível, ajudá-las no cumprimento de tarefas e obrigações – muitas delas, que surgem como conseqüência do próprio casamento. Este poderia ser um dos fatores que contribuem para o desencanto com o(a) parceiro(a) depois do casamento e a dissolução deste último. Afinal de contas, ele(a) parece estar pronto para apoiar e ajudar o outro(a) nos momentos de alegria, realização e comemoração, mas não nos momentos de dificuldade. Na verdade, depois do casamento, a pessoa se sente traída porque, quer a união tenha sido oficializada ou não, a tendência é esperar do outro o cumprimento da expectativa de que o parceiro a apóie, ame e respeite “na alegria e na tristeza, na doença e na saúde, etc.”
Além disso, durante o namoro, é fácil apoiar as esperanças e aspirações do outro. Em primeiro lugar porque elas não têm repercussão direta sobre nossa vida. Na verdade, durante o namoro, cada um vive sua própria vida, e o outro pode facilmente dar estímulo e motivação... às vezes até ajudar um pouco.
Depois que os dois se casam, vêm as obrigações: cuidar da casa, ir ao supermercado, cuidar das crianças, cuidar dos cachorros, fazer pagamentos... Isso fora as dificuldades maiores, que podem surgir quando um dos parceiros adoece ou entra, por exemplo, em uma crise de depressão. Diante de tudo isso, até mesmo apoiar os sonhos e os desejos de auto-realização do outro fica difícil: se os dois trabalham tempo integral, por exemplo, quem cuidará das crianças? Ou seja, até mesmo as realizações passam a ter implicações diretas na vida do outro e a sofrer limitações devidas às dificuldades que surgem com o casamento.
Será que o(a) namorado(a) que apóia entusiasticamente seus sonhos de auto-realização e conquistas profissionais está pronto para assumir junto com você as conseqüências da luta por essas causas e também ajudá-lo(a) no dia-a-dia da vida de casado(a)?
Segundo o estudo de Daniel Molden , a resposta a essa questão pode fazer a diferença em termos de quão satisfeito(a) você ficará após assumir o compromisso do casamento. Acreditar que o(a) parceiro(a) está pronto(a) para ajudar você a tornar-se a pessoa que você aspira ser significa uma maior probabilidade de satisfação na relação tanto para casais que namoram quanto para casais casados, mostrou o estudo. Mas a crença de que seu/sua parceiro(a) ajuda você a cumprir seus compromissos só significa uma maior probabilidade de satisfação com a relação após o casamento. Ou seja, depois que o namoro vira casamento, as pessoas já não se contentam com apoio e ajuda apenas para a realização de conquistas positivas, mas sentem, além disso, a necessidade de que o outro as ajudem a enfrentar as dificuldades.
Será a resolução desta questão suficiente para se conseguir selecionar um(a) bom/boa parceiro(a) para o casamento? Acredito que não; mas, certamente, um passo muito importante foi dado. Pensar nas necessidades futuras é uma maneira de usar a razão durante o namoro para tentar alcançar um casamento feliz.
E “acertar no casamento” é uma missão importante mesmo para aqueles que não acreditam que a relação pode não durar para o resto da vida, pois o custo emocional de uma separação é muito alto.
Usar a razão durante o namoro é, portanto, fundamental para aqueles que desejam construir um relacionamento feliz e não ter que arcar com as conseqüências de uma separação.

sábado, 3 de abril de 2010

BRIGAR, TOLERAR OU DIALOGAR?

Quando surgem pontos de divergência no relacionamento do casal, os parceiros encontram-se diante de três possibilidades: brigar, tolerar ou dialogar.
A briga, em geral, é a opção das pessoas que escolhem mascarar sua insegurança por meio da agressividade. Por exemplo, se um dos parceiros acha que é “responsável” por resolver a qualquer custo um problema do outro, diante de uma sensação não admitida de impotência, pode escolher brigar para que o(a) parceiro(a) mude. Outro motivo freqüente para a briga é o medo. O medo de não ser respeitado, ou de ter seus argumentos refutados ou desconsiderados pode levar um dos parceiros a escolher brigar.
A tolerância geralmente é a escolha de pessoas passivas, francamente medrosas ou passivo-agressivas. Consiste em não reagir às provocações ou reagir de forma dissimulada, boicotando o outro ao invés de enfrentá-lo abertamente. Essa pessoa costuma acumular ressentimentos e pode se sentir no direito de cobrar do outro, de alguma maneira, algum tipo de reconhecimento por sua “bondade”.
Quando o brigão se casa com o passivo, o primeiro “resolve” as coisas explodindo em raiva e o segundo escolhe conviver na base da tolerância. O pior, é que, como o parceiro passivo se se cala, muitas vezes o parceiro agressivo acha que “resolveu” o problema. Não percebe que a briga gera medo, inibição e revolta ou ressentimento que podem não ser expressos na hora ou que podem se manifestar na forma de choro, tristeza ou de atitudes passivo-agressivas. De qualquer forma, frequentemente o parceiro que briga acredita que só brigando consegue “consertar” o outro. E, muitas vezes, o parceiro passivo acha que agüentar tudo calado é a única maneira de ser generoso e julga-se muito “bonzinho” por isso.
Por outro lado, ambos os parceiros podem resolver brigar ou tolerar-se mutuamente e formar, no primeiro caso, um casal que se agride mutuamente ou, no segundo caso, um casal de indiferentes.
De qualquer maneira, a escolha pela briga ou pela tolerância excessiva geram revolta, ressentimento, e, não raramente, desejo de vingança.
Um estudo realizado em conjunto pela Universidade de Washington e pela Universidade de Berkeley revelou a existência de dois padrões principais de relacionamentos que terminam em divórcio: o casamento no qual predominam as brigas e que costuma terminar nos primeiros sete anos de convivência; e o casamento de pessoas que se comportam de maneira fria e escondem as emoções – que costuma terminar quando os parceiros atingem a meia-idade.
Viver infeliz para sempre ou encarar a separação parecem ser as possibilidades que apresentam aos parceiros quando o casal convive à base de brigas ou de pura tolerância.
O diálogo é um caminho mais difícil de ser trilhado do ponto de vista do individualismo. Envolve vencer os próprios medos, arriscar-se a não ser compreendido, investir muito na relação e talvez não ser correspondido. Mas quando esse caminho difícil é a escolha de ambos os parceiros, o resultado é a resolução dos problemas à medida em que eles vão surgindo, um relacionamento livre de ressentimentos e mágoas, e o aperfeiçoamento da relação e o crescimento pessoal dos parceiros. Brigar, tolerar ou dialogar, enfim, são escolhas que dependem das prioridades das pessoas: autoafirmar-se a qualquer custo, suportar o outro a contragosto; ou buscar o caminho árduo, mas altamente proveitoso e realizador, da felicidade conjugal.

segunda-feira, 29 de março de 2010

PARA REFLETIR

Somente aquele que faz um uso construtivo de tudo o que viveu consegue ser grato por tudo o que lhe aconteceu.
Marilene Mazza

MUDANÇA E APERFEIÇOAMENTO PESSOAL E CONJUGAL

Embora muitas pessoas digam “Sou assim, sempre fui assim e não vou mudar”, a verdade é que as pessoas – assim como tudo no universo em que vivemos – estão sempre mudando.
Nossos corpos estão sempre mudando: cada molécula, cada átomo é trocado incessantemente. E neste organismo que muda - nasce, cresce, desenvolve-se, envelhece e morre – o órgão que mais muda é o cérebro. O cérebro muda tanto, que a neurociência criou uma expressão especial para descrever essas mudanças: a plasticidade cerebral.
Desde o ventre de nossas mães, nossos cérebros se formam e se estruturam em contínua mudança. O termo neurodesenvolvimento significa que o sistema nervoso se constrói em uma interação íntima e contínua com os eventos ambientais. Desde bem antes do nascimento até a morte, tudo o que nos acontece afeta nosso cérebro.
Se nosso cérebro muda continuamente, nossos pensamentos e sentimentos também mudam. Viver é mudar continuamente. Para bem ou para mal. Quem não se esforça para mudar para melhor muda para pior: deixa-se levar ladeira abaixo na trilha da involução.
Mudar para melhor é nadar contra a corrente. É crescer e se desenvolver. É amadurecer e não apenas envelhecer.
Muitas pessoas se queixam da rotina e da mesmice de seus relacionamentos conjugais. Não é que as pessoas não mudem quando deixam o tempo passar sem se esforçarem para aperfeiçoar a si mesmas e ao relacionamento: elas pioram com o tempo. Os padrões de comportamento não vão só se repetindo, vão se generalizando. É por isso que depois de um tempo aquele relacionamento que era maravilhoso torna-se insuportável: as coisas estão cada vez piores. E a única maneira de não deixar o relacionamento piorar é esforçar-se para mudar para melhor. O diálogo, a troca de experiências e de opiniões, a leitura de textos esclarecedores e uma psicoterapia eficiente são maneiras de se procurar melhorar.
Apesar de a mudança ser um fenômeno universal e inevitável, essa palavra desperta medo em muitas pessoas. Pessoas que tentam desesperadamente se agarrar a imagens estagnadas de si mesmas e acreditar que são firmes e sólidas como as rochas parecem ser. Na verdade, até as rochas estão sempre mudando. O que as pessoas conseguem fazer é apenas enganar a si mesmas com uma crença infantil em sua imutabilidade.
Nós só temos duas escolhas: lutar para melhorar ou deixar as coisas se deteriorarem.
À medida em que se desenvolve, e até mesmo à medida que envelhece, o ser humano precisa tornar-se mais sábio, mais maduro, cada vez melhor.
A perfeição é inatingível, porém uma bela vida consiste na luta constante em busca dela. Um belo relacionamento, um relacionamento feliz, consiste em uma interação continuamente construtiva, uma jornada conjunta em busca de mais tolerância, mais compreensão, mais compaixão, mais respeito e uma maior capacidade de amar.
Esta é a identidade do verdadeiro amor: crescer juntos a cada dia.
Agindo assim, não há como “cair na rotina”; não há como não renovar continuamente o brilho da paixão; não há como deixar de admirar-se e deleitar-se com a beleza infinita que o outro ser humano e a interação com ele/ela revelam a cada momento. Passam-se os dias, os meses, os anos e as décadas e o amor não é o mesmo, mas renasce a cada dia e torna-se cada vez mais belo e profundo. Como a água que corre e escava a rocha, esculpindo nela caminhos insondáveis, assim é o amor em um relacionamento que não se deteriora mas que se aperfeiçoa a cada dia.

segunda-feira, 22 de março de 2010

NAMORO, EMOÇÃO E RAZÃO I


O namoro é, em geral, visto como um momento de “conquista”, durante o qual cada parceiro(a) apresenta à/ao outro(a) uma imagem a mais atraente possível de si mesmo(a). O objetivo é cativar a outra pessoa a ponto de convencê-la a investir em um relacionamento mais sério. Geralmente, as pessoas que namoram nesse nível estão apaixonadas. E, se tudo der certo, ficarão mais apaixonadas ainda com o decorrer dos meses ou anos... até resolverem casar-se ou morar juntas.
Muitas vezes, quando o namoro culmina em casamento, não demora muito para um ou ambos os parceiros descobrirem que estão morando com uma pessoa completamente diferente daquela que namoraram. Isto é o que acontece, em grande parte dos casos, quando as pessoas namoraram apenas para “conquistar” uma à outra, ou quando namorar consistiu apenas em deixar-se levar pelas emoções sem fazer uso da razão.
Pode parecer pouco romântico dizer isto, mas os namorados não deveriam prescindir da razão durante o namoro. Namorar não deveria servir apenas para encantar e ser encantado, mas também, e talvez principalmente, para conhecer e ser conhecido – saber se a outra pessoa tem realmente algo a ver com o(a) parceiro(a) que você procura ou se ambos encontram-se envolvidos apenas em uma grande fantasia. Isso é importante para quem não deseja casar-se ou ir morar junto e acabar achando que foi enganado(a).
A verdade é que durante o namoro, muitas vezes as pessoas vivem apenas a paixão e nem começam a construir o amor... e frequentemente confundem a primeira com o segundo. Estar apaixonado significa a mesma coisa que amar? Infelizmente, grande parte dos apaixonados descobre que não, na prática, antes de ao menos pensar no que isso significa na teoria: basta ir morar junto com o(a) outro(a) ou casar-se.
Então, qual seria a solução: namorar para o resto da vida e nunca assumir um compromisso mais sério... ou, quem sabe, morar em casas separadas?
Penso que não há vantagem nessas soluções. Perde-se muita coisa boa do relacionamento se este não evolui para um maior comprometimento do casal ou se ambos resolvem morar em casas separadas. Acredito que a solução está no próprio namoro, que não deve ser apenas um período de experimentar fortes emoções, mas também de se usar – e muito – a razão.
O namoro precisa ser um tempo de mútua descoberta, de discussão dos objetivos e metas do casal, e, principalmente, de explicitação do que cada um espera do relacionamento. Assim, as expectativas ficam mais claras; acordos podem ser feitos; e mudanças podem ser realizadas, quando necessário.
Não digo que o namoro precise ser uma espécie de simulação do início do casamento, mas um momento que permita às pessoas maior segurança na escolha do parceiro(a) e o estabelecimento de um bom grau de clareza na relação. Não penso que o uso da razão estrague a emoção, mas, pelo contrário, que ele a enriquece. Penso que ele traz maturidade ao relacionamento e faz com que o namoro não seja apenas uma vivência da paixão, mas também a descoberta do amor. E, como alguém já disse, o melhor da relação pode ser obtido quando a gente é apaixonada por quem a gente ama – e o namoro é o momento certo de começar a construir as duas coisas ao mesmo tempo, para que aumentem as chances de se fazer desabrochar um relacionamento feliz.

segunda-feira, 15 de março de 2010

UMA VISÃO CONSTRUTIVA DO RELACIONAMENTO


O tipo de visão que cada parceiro tem do relacionamento é fundamental na evolução da convivência do casal.
Uma visão negativa do relacionamento e a desesperança com relação à possibilidade de resolução dos conflitos bloqueia os passos do casal em direção a mudanças positivas na dinâmica de sua interação. Muitas vezes, o primeiro pensamento que surge na mente das pessoas quando aparecem problemas é o de que o relacionamento “não está dando certo” ou de que “os dois não combinam”. De maneira precipitada, elas podem concluir, a partir desses pensamentos, que não existe solução para o impasse e que a melhor saída seria partir logo para a separação.
Ironicamente, quando as pessoas entram no relacionamento com uma visão excessivamente otimista, ou seja, de que a relação não tem problemas e de que só o amor resolve tudo, o resultado pode ser semelhante ao de uma visão negativa. Isto porque somente podemos resolver problemas quando reconhecemos e aceitamos sua existência. E, se os problemas não são resolvidos, o relacionamento não evolui.
Muitas pessoas pensam que um período de namoro agradável é garantia de um relacionamento feliz quando os dois passam a “morar debaixo do mesmo teto”. O período de namoro é normalmente marcado por fantasias e idealizações que podem se desfazer nos primeiros meses ou anos de convivência conjugal quando surgem as primeiras dificuldades.
Estabelecer expectativas realistas é fundamental, particularmente no início do relacionamento, para que o casal possa construir sua felicidade amorosa.
Ter expectativas realistas não significa não sonhar, não se encantar, não se apaixonar. Ter expectativas realistas significa estar ciente de que partes das duas personalidades vão se complementar, mas outras partes vão se atritar. E esses atritos não deve também ser encarados de maneira negativa, mas sim construtiva: como oportunidades de novas descobertas e de crescimento.
Certa vez perguntaram a um casal feliz como eles conseguiam manter-nos tão unidos e apaixonados depois de 20 anos de casamento. Eles responderam que no início éramos como duas pedras de superfícies muito irregulares, e que com o tempo foram se atritando, se atritando, e consequentemente se polindo mutuamente, e o contato entre elas se tornou cada vez mais fácil e harmonioso.
Fazendo uso dessa metáfora, podemos dizer que quando as duas pedras se encontram, se elas se atritarem com violência excessiva - que é o que ocorre como resultado de uma visão negativa do relacionamento - elas se esfacelarão mutuamente; se elas não se atritarem - o que resulta de uma visão artificialmente perfeita do relacionamento - seu contato continuará sempre difícil e desarmonioso; se elas se atritarem suavemente e de maneira persistente, elas se polirão uma à outra, sua superfície de contato aumentará e elas se tornaram cada vez mais complementares.

domingo, 7 de março de 2010

DA IDEALIZAÇÃO À DESILUSÃO

Quando somos sozinhos e sonhamos encontrar um(a) parceiro(a), nós construímos uma imagem ideal de como gostaríamos que ele/ela fosse. Quando encontramos alguém com várias das características dessa imagem, nós nos apaixonamos.
Os primeiros meses de convivência são pura festa: comemoração do encontro dos ideais de ambos os parceiros. À medida que convivemos com a pessoa amada vamos descobrindo, ao longo dos meses ou dos anos, que além das maravilhosas qualidades com que sonhamos nosso(a) parceiro(a) também apresenta características que nos desagradam. Muito frequentemente rotulamos essas características como defeitos e muitas vezes tentamos eliminá-las ou passamos a conviver com elas à base da tolerância. Com o passar do tempo, as percepções dos defeitos na pessoa amada vão, como borrões de tinta, deformando a imagem idealizada que dela tínhamos construído. Dentro de algum tempo, já não reconhecemos no(a) parceiro(a) a pessoa por quem nos apaixonamos. Aí dizemos que o amor acabou e que tudo não passou de uma ilusão.
Ora, todas as pessoas têm características que percebemos como qualidades e outras características que percebemos como defeitos. Cada vez que nos deparamos com aquilo que consideramos um defeito surge a chance de um atrito. Esses momentos de atrito podem ser encarados simplesmente como momentos de decepção, nos quais descobrimos que nem tudo na pessoa amada é como gostaríamos, ficamos insatisfeitos e destruímos parte da imagem idealizada que construímos a princípio. Este é o caminho que vai da idealização à desilusão.
Contudo, esses momentos podem ser vistos, de uma maneira mais adaptativa, como oportunidades de conhecermos melhor a outra pessoa e a nós mesmos, e nos unirmos mais. Cada um dos momentos de atrito se nos apresenta como um problema. E os problemas podem ser considerados como parte de um processo de fracasso ou de desilusão ou como oportunidades que nos permitem avançar na trilha do auto-conhecimento e crescer junto com a outra pessoa. Assim, as pessoas e o relacionamento vão progredindo e se aperfeiçoando cada vez mais com o passar do tempo. A cada passo dado nesta direção, o casal se conhece melhor, a cumplicidade aumenta e os dois podem se descobrir cada vez mais apaixonados um pelo outro.
Buscar soluções para os problemas, despertar potencialidades e descobrir recursos insuspeitos em si mesmo e no outro é a meta. A cada etapa vencida o amor se torna maior e o relacionamento mais compensador. Mas este é o caminho que trilham apenas aqueles que escolhem resolver os problemas e não ignorá-los, jogá-los para debaixo do tapete ou tentar fazê-los desaparecer por meio da manipulação e do controle do outro. Este é o caminho daqueles que escolhem aprender e crescer juntos e assim cultivar a cada dia a paixão e o amor e nunca deixá-los morrer.

CONSIDERAÇÃO, EMPATIA E COMPREENSÃO


Quando encontramos uma pessoa especial, aquela pessoa junto da qual desejamos passar o resto de nossas vidas, sentimos uma grande necessidade de sermos aceitos, aprovados e acolhidos por ela.
É diante dessa pessoa que desejamos poder nos revelar como um todo e nos deixar perceber exatamente como somos, em qualidades e defeitos. Precisamos, portanto, que essa pessoa nos compreenda, no aceite como somos e nos valorize em todas as circunstânicas: nos momentos de coragem bem como nos momentos de dor e de fraqueza, sem que nos sintamos cobrados nem coagidos a mudar ou a aparentar ser o que não somos.
Os momentos difíceis são grandes oportunidades para dedicarmos a nosso(a) parceiro(a) toda a consideração, empatia e compreensão que desejamos nós mesmos receber. Nesses momentos, é importante ouvir com atenção, acolher com carinho e respeitar completamente o outro em sua dignidade de ser humano. É isso mesmo, o outro deve ser valorizado e respeitado simplesmente por tratar-se de uma pessoa. E, neste caso, uma pessoa muito especial: a pessoa a quem amamos.
A consideração consiste no respeito e na valorização; a empatia, no acolhimento e na capacidade de nos colocarmos no lugar do outro; e a compreensão, na capacidade de apreender o ponto de vista do outro.
Somente a aceitação, a compreensão e o respeito incondicionais poderão nos permitir sermos completamente livres diante da pessoa que amamos e, ao adentrarmos nosso lar, depor as armas e descansar das batalhas da vida. Somente esse acolhimento terno e carinhoso pode fazer de nosso lar um local onde nos revigoramos, nos reabastecemos e nos nutrimos emocionalmente. Um local que nos torna mais fortes, mais felizes e mais prontos para encarar todos os reveses e os desafios da vida.