Retaliação é o que fazemos quando, magoados pelo(a) parceiro(a), nós
o(a) magoamos em retribuição.
Muitas pessoas se sentem plenas do direito de retaliar quando são
ofendidas. Voltam-se contra o outro, sentindo-se cheias de razão, e o criticam
violentamente, humilham-no por ter cometido um erro contra elas, punem-no,
atacam sua autoestima. E ainda avisam ao(à) pareceiro(a) que, se ele(a) está agora
sendo atacado(a), a culpa é exclusivamente dele(a), porque foi ele(a) que as
provocou, foi ele(a) que as fez reagirem assim.
E se o(a) parceiro(a) pede perdão e explica que não teve a intenção de
magoá-las, elas respondem que “de boas intenções o inferno está cheio”.
Tudo bem, muita gente faz coisas muito ruins apesar de terem as
melhores das intenções, mas existe uma diferença muito grande entre uma pessoa
que pisou em nosso pé sem querer e outra que o chutou deliberadamente. A
primeira precisa pedir desculpas e aprender a não repetir o erro; mas a segunda
está definitivamente em dívida para conosco e, além de pedir desculpas, nos
deve explicações pela agressão. Esta pessoa é verdadeiramente culpada, pois foi
mal intencionada. Não basta pedir desculpas e ficar livre para repetir o que
fez assim que lhe der vontade novamente. Para tentar resgatar nossa confiança,
precisa encarar e refletir sobre a intensão que teve ao fazer o que fez e se
comprometer a não agir mais dessa maneira. Então nem sempre é tão simples dizer
que “de boas intenções o inferno está cheio”.
Dar-se o direito de retaliar é optar por “dar o troco”, reagir de
maneira agressiva ou passivo-agressiva.
E onde fica o “dar a outra face”? Ao contrário do que muita gente
pensa, “dar a outra face” não significa simplesmente oferecer-se para ser
novamente agredido. A “outra face” de que Jesus fala, é a face que reflete a
ação do outro. Isso mesmo, a outra face é um espelho. É a capacidade de
devolver à outra pessoa as consequências de seus atos. O que não significa,
contudo, julgar o outro e dizer que ele agiu com crueldade ou de propósito
quando não for esse o caso.
E como fazer quando estamos na dúvida se a ofensa foi ou não proposital?
Neste caso, além de falar sobre o fato de a pessoa ter feito o que fez,
devolve-se à ela um questionamento franco a respeito de suas intenções.
Isto é um confronto. Um confronto saudável não é uma briga, é uma situação
na qual as pessoas têm que encarar e são levadas a encarar a situação na qual
estão envolvidas. Muita gente tem medo de confrontos e prefere fugir ou ser
manipuladora, passivo-agressiva. Outros escolhem confrontar a outra pessoa de
maneira francamente agressiva.
Dar a outra face não exclui a possibilidade de um confronto saudável ,
mas exclui a fuga passiva, a agressão passiva e simplesmente “dar o troco”,
isto é, retribuir a agressão com agressão.
Quando damos a outra face (a face do espelho) somos pedagógicos. A
pessoa é forçada a se confrontar com o que fez. Mesmo que não seja de imediato.
Mesmo que a resposta dada seja o silêncio. O silêncio pedagógico é diferente do
silêncio passivo e também do silêncio passivo-agressivo. O silêncio pedagógico
também é uma maneira de dar a outra face. E dar a outra face não significa,
repito, ser passivo nem
passivo-agressivo e, muito menos, punitivo.
A outra face é apenas um espelho que reflete com clareza, nitidez e
simplicidade o que aconteceu. Isto significa que não há de nossa parte intenção
de ofender, manipular ou agredir; apenas de olhar, juntamente com o outro, o
que aconteceu em busca de um encontro maduro com a verdade no qual cada um
possa encarar as consequências dos próprios atos.