segunda-feira, 29 de março de 2010

PARA REFLETIR

Somente aquele que faz um uso construtivo de tudo o que viveu consegue ser grato por tudo o que lhe aconteceu.
Marilene Mazza

MUDANÇA E APERFEIÇOAMENTO PESSOAL E CONJUGAL

Embora muitas pessoas digam “Sou assim, sempre fui assim e não vou mudar”, a verdade é que as pessoas – assim como tudo no universo em que vivemos – estão sempre mudando.
Nossos corpos estão sempre mudando: cada molécula, cada átomo é trocado incessantemente. E neste organismo que muda - nasce, cresce, desenvolve-se, envelhece e morre – o órgão que mais muda é o cérebro. O cérebro muda tanto, que a neurociência criou uma expressão especial para descrever essas mudanças: a plasticidade cerebral.
Desde o ventre de nossas mães, nossos cérebros se formam e se estruturam em contínua mudança. O termo neurodesenvolvimento significa que o sistema nervoso se constrói em uma interação íntima e contínua com os eventos ambientais. Desde bem antes do nascimento até a morte, tudo o que nos acontece afeta nosso cérebro.
Se nosso cérebro muda continuamente, nossos pensamentos e sentimentos também mudam. Viver é mudar continuamente. Para bem ou para mal. Quem não se esforça para mudar para melhor muda para pior: deixa-se levar ladeira abaixo na trilha da involução.
Mudar para melhor é nadar contra a corrente. É crescer e se desenvolver. É amadurecer e não apenas envelhecer.
Muitas pessoas se queixam da rotina e da mesmice de seus relacionamentos conjugais. Não é que as pessoas não mudem quando deixam o tempo passar sem se esforçarem para aperfeiçoar a si mesmas e ao relacionamento: elas pioram com o tempo. Os padrões de comportamento não vão só se repetindo, vão se generalizando. É por isso que depois de um tempo aquele relacionamento que era maravilhoso torna-se insuportável: as coisas estão cada vez piores. E a única maneira de não deixar o relacionamento piorar é esforçar-se para mudar para melhor. O diálogo, a troca de experiências e de opiniões, a leitura de textos esclarecedores e uma psicoterapia eficiente são maneiras de se procurar melhorar.
Apesar de a mudança ser um fenômeno universal e inevitável, essa palavra desperta medo em muitas pessoas. Pessoas que tentam desesperadamente se agarrar a imagens estagnadas de si mesmas e acreditar que são firmes e sólidas como as rochas parecem ser. Na verdade, até as rochas estão sempre mudando. O que as pessoas conseguem fazer é apenas enganar a si mesmas com uma crença infantil em sua imutabilidade.
Nós só temos duas escolhas: lutar para melhorar ou deixar as coisas se deteriorarem.
À medida em que se desenvolve, e até mesmo à medida que envelhece, o ser humano precisa tornar-se mais sábio, mais maduro, cada vez melhor.
A perfeição é inatingível, porém uma bela vida consiste na luta constante em busca dela. Um belo relacionamento, um relacionamento feliz, consiste em uma interação continuamente construtiva, uma jornada conjunta em busca de mais tolerância, mais compreensão, mais compaixão, mais respeito e uma maior capacidade de amar.
Esta é a identidade do verdadeiro amor: crescer juntos a cada dia.
Agindo assim, não há como “cair na rotina”; não há como não renovar continuamente o brilho da paixão; não há como deixar de admirar-se e deleitar-se com a beleza infinita que o outro ser humano e a interação com ele/ela revelam a cada momento. Passam-se os dias, os meses, os anos e as décadas e o amor não é o mesmo, mas renasce a cada dia e torna-se cada vez mais belo e profundo. Como a água que corre e escava a rocha, esculpindo nela caminhos insondáveis, assim é o amor em um relacionamento que não se deteriora mas que se aperfeiçoa a cada dia.

segunda-feira, 22 de março de 2010

NAMORO, EMOÇÃO E RAZÃO I


O namoro é, em geral, visto como um momento de “conquista”, durante o qual cada parceiro(a) apresenta à/ao outro(a) uma imagem a mais atraente possível de si mesmo(a). O objetivo é cativar a outra pessoa a ponto de convencê-la a investir em um relacionamento mais sério. Geralmente, as pessoas que namoram nesse nível estão apaixonadas. E, se tudo der certo, ficarão mais apaixonadas ainda com o decorrer dos meses ou anos... até resolverem casar-se ou morar juntas.
Muitas vezes, quando o namoro culmina em casamento, não demora muito para um ou ambos os parceiros descobrirem que estão morando com uma pessoa completamente diferente daquela que namoraram. Isto é o que acontece, em grande parte dos casos, quando as pessoas namoraram apenas para “conquistar” uma à outra, ou quando namorar consistiu apenas em deixar-se levar pelas emoções sem fazer uso da razão.
Pode parecer pouco romântico dizer isto, mas os namorados não deveriam prescindir da razão durante o namoro. Namorar não deveria servir apenas para encantar e ser encantado, mas também, e talvez principalmente, para conhecer e ser conhecido – saber se a outra pessoa tem realmente algo a ver com o(a) parceiro(a) que você procura ou se ambos encontram-se envolvidos apenas em uma grande fantasia. Isso é importante para quem não deseja casar-se ou ir morar junto e acabar achando que foi enganado(a).
A verdade é que durante o namoro, muitas vezes as pessoas vivem apenas a paixão e nem começam a construir o amor... e frequentemente confundem a primeira com o segundo. Estar apaixonado significa a mesma coisa que amar? Infelizmente, grande parte dos apaixonados descobre que não, na prática, antes de ao menos pensar no que isso significa na teoria: basta ir morar junto com o(a) outro(a) ou casar-se.
Então, qual seria a solução: namorar para o resto da vida e nunca assumir um compromisso mais sério... ou, quem sabe, morar em casas separadas?
Penso que não há vantagem nessas soluções. Perde-se muita coisa boa do relacionamento se este não evolui para um maior comprometimento do casal ou se ambos resolvem morar em casas separadas. Acredito que a solução está no próprio namoro, que não deve ser apenas um período de experimentar fortes emoções, mas também de se usar – e muito – a razão.
O namoro precisa ser um tempo de mútua descoberta, de discussão dos objetivos e metas do casal, e, principalmente, de explicitação do que cada um espera do relacionamento. Assim, as expectativas ficam mais claras; acordos podem ser feitos; e mudanças podem ser realizadas, quando necessário.
Não digo que o namoro precise ser uma espécie de simulação do início do casamento, mas um momento que permita às pessoas maior segurança na escolha do parceiro(a) e o estabelecimento de um bom grau de clareza na relação. Não penso que o uso da razão estrague a emoção, mas, pelo contrário, que ele a enriquece. Penso que ele traz maturidade ao relacionamento e faz com que o namoro não seja apenas uma vivência da paixão, mas também a descoberta do amor. E, como alguém já disse, o melhor da relação pode ser obtido quando a gente é apaixonada por quem a gente ama – e o namoro é o momento certo de começar a construir as duas coisas ao mesmo tempo, para que aumentem as chances de se fazer desabrochar um relacionamento feliz.

segunda-feira, 15 de março de 2010

UMA VISÃO CONSTRUTIVA DO RELACIONAMENTO


O tipo de visão que cada parceiro tem do relacionamento é fundamental na evolução da convivência do casal.
Uma visão negativa do relacionamento e a desesperança com relação à possibilidade de resolução dos conflitos bloqueia os passos do casal em direção a mudanças positivas na dinâmica de sua interação. Muitas vezes, o primeiro pensamento que surge na mente das pessoas quando aparecem problemas é o de que o relacionamento “não está dando certo” ou de que “os dois não combinam”. De maneira precipitada, elas podem concluir, a partir desses pensamentos, que não existe solução para o impasse e que a melhor saída seria partir logo para a separação.
Ironicamente, quando as pessoas entram no relacionamento com uma visão excessivamente otimista, ou seja, de que a relação não tem problemas e de que só o amor resolve tudo, o resultado pode ser semelhante ao de uma visão negativa. Isto porque somente podemos resolver problemas quando reconhecemos e aceitamos sua existência. E, se os problemas não são resolvidos, o relacionamento não evolui.
Muitas pessoas pensam que um período de namoro agradável é garantia de um relacionamento feliz quando os dois passam a “morar debaixo do mesmo teto”. O período de namoro é normalmente marcado por fantasias e idealizações que podem se desfazer nos primeiros meses ou anos de convivência conjugal quando surgem as primeiras dificuldades.
Estabelecer expectativas realistas é fundamental, particularmente no início do relacionamento, para que o casal possa construir sua felicidade amorosa.
Ter expectativas realistas não significa não sonhar, não se encantar, não se apaixonar. Ter expectativas realistas significa estar ciente de que partes das duas personalidades vão se complementar, mas outras partes vão se atritar. E esses atritos não deve também ser encarados de maneira negativa, mas sim construtiva: como oportunidades de novas descobertas e de crescimento.
Certa vez perguntaram a um casal feliz como eles conseguiam manter-nos tão unidos e apaixonados depois de 20 anos de casamento. Eles responderam que no início éramos como duas pedras de superfícies muito irregulares, e que com o tempo foram se atritando, se atritando, e consequentemente se polindo mutuamente, e o contato entre elas se tornou cada vez mais fácil e harmonioso.
Fazendo uso dessa metáfora, podemos dizer que quando as duas pedras se encontram, se elas se atritarem com violência excessiva - que é o que ocorre como resultado de uma visão negativa do relacionamento - elas se esfacelarão mutuamente; se elas não se atritarem - o que resulta de uma visão artificialmente perfeita do relacionamento - seu contato continuará sempre difícil e desarmonioso; se elas se atritarem suavemente e de maneira persistente, elas se polirão uma à outra, sua superfície de contato aumentará e elas se tornaram cada vez mais complementares.

domingo, 7 de março de 2010

DA IDEALIZAÇÃO À DESILUSÃO

Quando somos sozinhos e sonhamos encontrar um(a) parceiro(a), nós construímos uma imagem ideal de como gostaríamos que ele/ela fosse. Quando encontramos alguém com várias das características dessa imagem, nós nos apaixonamos.
Os primeiros meses de convivência são pura festa: comemoração do encontro dos ideais de ambos os parceiros. À medida que convivemos com a pessoa amada vamos descobrindo, ao longo dos meses ou dos anos, que além das maravilhosas qualidades com que sonhamos nosso(a) parceiro(a) também apresenta características que nos desagradam. Muito frequentemente rotulamos essas características como defeitos e muitas vezes tentamos eliminá-las ou passamos a conviver com elas à base da tolerância. Com o passar do tempo, as percepções dos defeitos na pessoa amada vão, como borrões de tinta, deformando a imagem idealizada que dela tínhamos construído. Dentro de algum tempo, já não reconhecemos no(a) parceiro(a) a pessoa por quem nos apaixonamos. Aí dizemos que o amor acabou e que tudo não passou de uma ilusão.
Ora, todas as pessoas têm características que percebemos como qualidades e outras características que percebemos como defeitos. Cada vez que nos deparamos com aquilo que consideramos um defeito surge a chance de um atrito. Esses momentos de atrito podem ser encarados simplesmente como momentos de decepção, nos quais descobrimos que nem tudo na pessoa amada é como gostaríamos, ficamos insatisfeitos e destruímos parte da imagem idealizada que construímos a princípio. Este é o caminho que vai da idealização à desilusão.
Contudo, esses momentos podem ser vistos, de uma maneira mais adaptativa, como oportunidades de conhecermos melhor a outra pessoa e a nós mesmos, e nos unirmos mais. Cada um dos momentos de atrito se nos apresenta como um problema. E os problemas podem ser considerados como parte de um processo de fracasso ou de desilusão ou como oportunidades que nos permitem avançar na trilha do auto-conhecimento e crescer junto com a outra pessoa. Assim, as pessoas e o relacionamento vão progredindo e se aperfeiçoando cada vez mais com o passar do tempo. A cada passo dado nesta direção, o casal se conhece melhor, a cumplicidade aumenta e os dois podem se descobrir cada vez mais apaixonados um pelo outro.
Buscar soluções para os problemas, despertar potencialidades e descobrir recursos insuspeitos em si mesmo e no outro é a meta. A cada etapa vencida o amor se torna maior e o relacionamento mais compensador. Mas este é o caminho que trilham apenas aqueles que escolhem resolver os problemas e não ignorá-los, jogá-los para debaixo do tapete ou tentar fazê-los desaparecer por meio da manipulação e do controle do outro. Este é o caminho daqueles que escolhem aprender e crescer juntos e assim cultivar a cada dia a paixão e o amor e nunca deixá-los morrer.

CONSIDERAÇÃO, EMPATIA E COMPREENSÃO


Quando encontramos uma pessoa especial, aquela pessoa junto da qual desejamos passar o resto de nossas vidas, sentimos uma grande necessidade de sermos aceitos, aprovados e acolhidos por ela.
É diante dessa pessoa que desejamos poder nos revelar como um todo e nos deixar perceber exatamente como somos, em qualidades e defeitos. Precisamos, portanto, que essa pessoa nos compreenda, no aceite como somos e nos valorize em todas as circunstânicas: nos momentos de coragem bem como nos momentos de dor e de fraqueza, sem que nos sintamos cobrados nem coagidos a mudar ou a aparentar ser o que não somos.
Os momentos difíceis são grandes oportunidades para dedicarmos a nosso(a) parceiro(a) toda a consideração, empatia e compreensão que desejamos nós mesmos receber. Nesses momentos, é importante ouvir com atenção, acolher com carinho e respeitar completamente o outro em sua dignidade de ser humano. É isso mesmo, o outro deve ser valorizado e respeitado simplesmente por tratar-se de uma pessoa. E, neste caso, uma pessoa muito especial: a pessoa a quem amamos.
A consideração consiste no respeito e na valorização; a empatia, no acolhimento e na capacidade de nos colocarmos no lugar do outro; e a compreensão, na capacidade de apreender o ponto de vista do outro.
Somente a aceitação, a compreensão e o respeito incondicionais poderão nos permitir sermos completamente livres diante da pessoa que amamos e, ao adentrarmos nosso lar, depor as armas e descansar das batalhas da vida. Somente esse acolhimento terno e carinhoso pode fazer de nosso lar um local onde nos revigoramos, nos reabastecemos e nos nutrimos emocionalmente. Um local que nos torna mais fortes, mais felizes e mais prontos para encarar todos os reveses e os desafios da vida.