sexta-feira, 23 de abril de 2010

CASAMENTO FAZ BEM? QUANDO E PARA QUEM?

Afinal de contas, o casamento faz bem? Esta é uma pergunta que tem sido feita por muitas pessoas e também uma questão investigada por cientistas. Muita gente que namora tem dúvidas sobre se vale a pena casar; e alguns até dizem que casar, ou ir morar juntos, estraga o relacionamento. E aí?
Alguns estudos avaliaram os níveis de satisfação de relacionamentos de casais de acordo com questionários padronizados que incluem questionamentos como: satisfação com o tanto de tempo passado juntos, comunicação, atividade sexual, concordância sobre questões financeiras, similaridade de interesses, estilo de vida e temperamento.
Os resultados podem ser considerados, no mínimo, interessantes.
Segundo um estudo da Universidade da Califórnia liderado por Darby E. Saxbe, mulheres mal casadas não se recuperam bem do estresse ao final do dia: seus níveis de cortisol (hormônio cuja liberação pelas glândulas adrenais aumenta com o estresse) não baixam quando elas chegam em casa no fim do dia, ao contrário do que acontece com mulheres bem casadas e com os homens casados. Níveis cronicamente elevados desse hormônio estão relacionados à maior incidência de depressão, síndrome de “burn out”, síndrome de fadiga crônica, problemas de relacionamento, ajustamento social ruim e, possivelmente, câncer.
Um outro estudo, da Universidade de Utah, liderado por Nancy Henry, descobriu que mulheres que estão envolvidas em casamentos muito estressantes têm maior probabilidade de se sentirem deprimidas e sofrer de pressão alta, obesidade abdominal, altos níveis de açúcar no sangue, altos níveis de triglicérides e baixos níveis de HDL (o “bom colesterol”) - fatores de risco para doença cardíaca, AVC e diabetes. Os homens envolvidos nesse tipo de casamento também estão mais propensos a se sentirem deprimidos, mas não têm maior probabilidade de alterações fisiopatológicas.
Um estudo da Associação Americana de Psicologia realizado por pesquisadores da Universidade de Pittsburg mostrou que o relacionamento conjugal parece ser benéfico para as mulheres, mas apenas quando o nível de satisfação conjugal é alto. As mulheres envolvidas em casamentos caracterizados por altos níveis de satisfação apresentavam vantagens em termos de saúde quando comparadas com participantes envolvidas em casamentos caracterizados por baixos níveis de satisfação e com mulheres não casadas (solteiras, viúvas ou divorciadas): essas vantagens incluíam níveis mais baixos de fatores de risco biológicos e de estilo de vida que favorecem o surgimento de doenças cardiovasculares, além de níveis mais baixos de fatores de risco psicossociais para doenças cardiovasculares - tais como depressão, ansiedade e raiva. As mulheres envolvidas nos relacionamentos altamente satisfatórios também mostraram essas mesmas vantagens quando comparadas com mulheres envolvidas em relacionamentos moderadamente satisfatórios, mas em menor extensão. Assim, de acordo com o estudo, a qualidade do relacionamento conjugal poderiam influenciar fatores de risco metabólicos e respostas agudas ao estresse, os quais podem ser utilizadas na previsão de morbidade e mortalidade cardiovascular.
Um outro estudo da Associação Americana de Psicologia realizado na Faculdade de Medicina da Universidade do Estado de Ohio avaliou os níveis de hormônios ligados ao estresse e revelou que a qualidade dos relacionamentos pode afetar a saúde. Segundo esse estudo, encontros positivos reduzem as reações ao estresse e influenciam a longevidade do relacionamento, especialmente para as esposas. Sabe-se que encontros desagradáveis podem evocar fortes reações fisiológicas e podem prejudicar a saúde de uma pessoa que seja exposta a eles por um longo período de tempo. Mas, as interações positivas têm o efeito oposto. De acordo com o estudo, o exame das alterações hormonais que indicam o nível de estresse em relacionamentos positivos. Os níveis de cortisol aumenta com emoções negativas mas não com emoções positivas. Segundo esse estudo as alterações nos níveis de cortisol são influenciadas pela “linguagem emocional” das mulheres e dos homens.
A maior parte dos homens avaliados mostrou queda dos níveis de cortisol ao descrever seus relacionamentos e utilizou mais palavras positivas quando contaram a história de seus relacionamentos em comparação com os homens cujos níveis de colesterol permaneceram constantes ou aumentados. Por outro lado, mulheres cujos níveis de cortisol diminuiu usaram menos palavras negativas ao descrevem seus relacionamentos conjugais. Mas as mulheres que descreveram seus relacionamentos com palavras negativas apresentaram níveis de cortisol muito mais altos do que os dos homens que estavam passando pelos mesmos eventos negativos. Essas diferenças entre as reações das esposas, mas não dos esposos, ainda apresentavam correlação com o estado de seus relacionamentos 8 a 12 anos depois. As mulheres cujos níveis de cortisol aumentava quando elas contavam sua história conjugal mais cedo apresentaram uma maior probabilidade de estarem divorciadas uma década depois. De acordo com esse estudo, o casamento tem custos e benefícios diferentes para a saúde de mulheres e homens.
Diante de todas essas informações, penso que um relacionamento altamente satisfatório, nos termos descritos no início deste texto, faz bem para mulheres e homens. Mas, parece que quando as coisas não dão muito certo, as maiores prejudicadas são as mulheres. Talvez por isso sejam elas as primeiras a procurar ajuda e a aceitar uma terapia de casal quando as dificuldades surgem. Não acredito, contudo, que falte aos esposos interesse em seu próprio bem estar e no bem estar de suas esposas, principalmente em termos de saúde, e creio que à medida em que cheguem ao conhecimento destas questões, eles se interessarão cada vez mais pela melhora do relacionamento. Textos esclarecedores, a ajuda de amigos e a terapia de casal são instrumentos que podem ajudar os parceiros a restabelecer a harmonia que os uniu quando se apaixonaram um pelo outro. Portanto, divulgar informações e investir na melhora do relacionamento também é algo que faz bem a mulheres e homens.
Quanto às mulheres que ainda estão escolhendo seu parceiro, fica o meu conselho: sejam exigentes em termos de qualidade de relacionamento. Afinal, é a saúde de vocês que está em jogo. Para os homens que ainda estão escolhendo suas parceiras, digo que nunca é cedo para se interessarem pelo tema da qualidade do relacionamento. Como já disse em outros textos, acredito que o namoro não é apenas um momento de se deixar levar pela emoção, mas também de usar a razão e estabelecer os fundamentos de uma relação que beneficie, engrandeça e traga felicidade a todos os que nela forem envolvidos – inclusive os filhos que o casal possa vir a ter.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

DICA DE CONVIVÊNCIA

No que somos semelhantes, procurar dar apoio;
no que somos diferentes, procurar dar compreensão e espaço para o outro se expressar.
Compartilhar a felicidade nos momentos de alegria,
cooperar nos momentos de luta
e apoiar um ao outro nas dificuldades.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

NAMORO, EMOÇÃO E RAZÃO II (“NA ALEGRIA E NA TRISTEZA”... E EM TODOS OS MOMENTOS)

Uma das questões mais relevantes concernentes ao uso da razão durante o namoro é: Como saber se aquela pessoa que você julga ser um(a) bom/boa namorado(a) será um(a) bom/boa esposo(a)? Talvez se conseguíssemos encontrar a resposta correta para esta pergunta pudéssemos prever se um determinado namoro resultaria ou não em um casamento feliz.
Um estudo da Universidade Northwestern, chefiado pelo pesquisador Daniel Molden, tentou responder a uma questão importante envolvida nesse processo.
O estudo sugere que as pessoas que pretendem se casar deveriam refletir melhor sobre o tipo de suporte de que elas vão precisar durante o casamento e avaliar melhor se o(a) namorado(a) que apóia seus sonhos de realização está pronto para compartilhar com elas as agruras das obrigações.
Os namorados se preocupam bastante com a capacidade e a boa vontade dos parceiros em apoiar seus projetos e realizações. Este costuma ser um critério importante para a escolha de um(a) bo(a) namorado(a). Contudo, depois de casadas, as pessoas não se satisfazem com este critério para definir o que seria um/uma bo(a) esposo(a). Para as pessoas casadas, um outro critério importante é a capacidade e a boa vontade dos parceiros em apoiá-las e, na medida do possível, ajudá-las no cumprimento de tarefas e obrigações – muitas delas, que surgem como conseqüência do próprio casamento. Este poderia ser um dos fatores que contribuem para o desencanto com o(a) parceiro(a) depois do casamento e a dissolução deste último. Afinal de contas, ele(a) parece estar pronto para apoiar e ajudar o outro(a) nos momentos de alegria, realização e comemoração, mas não nos momentos de dificuldade. Na verdade, depois do casamento, a pessoa se sente traída porque, quer a união tenha sido oficializada ou não, a tendência é esperar do outro o cumprimento da expectativa de que o parceiro a apóie, ame e respeite “na alegria e na tristeza, na doença e na saúde, etc.”
Além disso, durante o namoro, é fácil apoiar as esperanças e aspirações do outro. Em primeiro lugar porque elas não têm repercussão direta sobre nossa vida. Na verdade, durante o namoro, cada um vive sua própria vida, e o outro pode facilmente dar estímulo e motivação... às vezes até ajudar um pouco.
Depois que os dois se casam, vêm as obrigações: cuidar da casa, ir ao supermercado, cuidar das crianças, cuidar dos cachorros, fazer pagamentos... Isso fora as dificuldades maiores, que podem surgir quando um dos parceiros adoece ou entra, por exemplo, em uma crise de depressão. Diante de tudo isso, até mesmo apoiar os sonhos e os desejos de auto-realização do outro fica difícil: se os dois trabalham tempo integral, por exemplo, quem cuidará das crianças? Ou seja, até mesmo as realizações passam a ter implicações diretas na vida do outro e a sofrer limitações devidas às dificuldades que surgem com o casamento.
Será que o(a) namorado(a) que apóia entusiasticamente seus sonhos de auto-realização e conquistas profissionais está pronto para assumir junto com você as conseqüências da luta por essas causas e também ajudá-lo(a) no dia-a-dia da vida de casado(a)?
Segundo o estudo de Daniel Molden , a resposta a essa questão pode fazer a diferença em termos de quão satisfeito(a) você ficará após assumir o compromisso do casamento. Acreditar que o(a) parceiro(a) está pronto(a) para ajudar você a tornar-se a pessoa que você aspira ser significa uma maior probabilidade de satisfação na relação tanto para casais que namoram quanto para casais casados, mostrou o estudo. Mas a crença de que seu/sua parceiro(a) ajuda você a cumprir seus compromissos só significa uma maior probabilidade de satisfação com a relação após o casamento. Ou seja, depois que o namoro vira casamento, as pessoas já não se contentam com apoio e ajuda apenas para a realização de conquistas positivas, mas sentem, além disso, a necessidade de que o outro as ajudem a enfrentar as dificuldades.
Será a resolução desta questão suficiente para se conseguir selecionar um(a) bom/boa parceiro(a) para o casamento? Acredito que não; mas, certamente, um passo muito importante foi dado. Pensar nas necessidades futuras é uma maneira de usar a razão durante o namoro para tentar alcançar um casamento feliz.
E “acertar no casamento” é uma missão importante mesmo para aqueles que não acreditam que a relação pode não durar para o resto da vida, pois o custo emocional de uma separação é muito alto.
Usar a razão durante o namoro é, portanto, fundamental para aqueles que desejam construir um relacionamento feliz e não ter que arcar com as conseqüências de uma separação.

sábado, 3 de abril de 2010

BRIGAR, TOLERAR OU DIALOGAR?

Quando surgem pontos de divergência no relacionamento do casal, os parceiros encontram-se diante de três possibilidades: brigar, tolerar ou dialogar.
A briga, em geral, é a opção das pessoas que escolhem mascarar sua insegurança por meio da agressividade. Por exemplo, se um dos parceiros acha que é “responsável” por resolver a qualquer custo um problema do outro, diante de uma sensação não admitida de impotência, pode escolher brigar para que o(a) parceiro(a) mude. Outro motivo freqüente para a briga é o medo. O medo de não ser respeitado, ou de ter seus argumentos refutados ou desconsiderados pode levar um dos parceiros a escolher brigar.
A tolerância geralmente é a escolha de pessoas passivas, francamente medrosas ou passivo-agressivas. Consiste em não reagir às provocações ou reagir de forma dissimulada, boicotando o outro ao invés de enfrentá-lo abertamente. Essa pessoa costuma acumular ressentimentos e pode se sentir no direito de cobrar do outro, de alguma maneira, algum tipo de reconhecimento por sua “bondade”.
Quando o brigão se casa com o passivo, o primeiro “resolve” as coisas explodindo em raiva e o segundo escolhe conviver na base da tolerância. O pior, é que, como o parceiro passivo se se cala, muitas vezes o parceiro agressivo acha que “resolveu” o problema. Não percebe que a briga gera medo, inibição e revolta ou ressentimento que podem não ser expressos na hora ou que podem se manifestar na forma de choro, tristeza ou de atitudes passivo-agressivas. De qualquer forma, frequentemente o parceiro que briga acredita que só brigando consegue “consertar” o outro. E, muitas vezes, o parceiro passivo acha que agüentar tudo calado é a única maneira de ser generoso e julga-se muito “bonzinho” por isso.
Por outro lado, ambos os parceiros podem resolver brigar ou tolerar-se mutuamente e formar, no primeiro caso, um casal que se agride mutuamente ou, no segundo caso, um casal de indiferentes.
De qualquer maneira, a escolha pela briga ou pela tolerância excessiva geram revolta, ressentimento, e, não raramente, desejo de vingança.
Um estudo realizado em conjunto pela Universidade de Washington e pela Universidade de Berkeley revelou a existência de dois padrões principais de relacionamentos que terminam em divórcio: o casamento no qual predominam as brigas e que costuma terminar nos primeiros sete anos de convivência; e o casamento de pessoas que se comportam de maneira fria e escondem as emoções – que costuma terminar quando os parceiros atingem a meia-idade.
Viver infeliz para sempre ou encarar a separação parecem ser as possibilidades que apresentam aos parceiros quando o casal convive à base de brigas ou de pura tolerância.
O diálogo é um caminho mais difícil de ser trilhado do ponto de vista do individualismo. Envolve vencer os próprios medos, arriscar-se a não ser compreendido, investir muito na relação e talvez não ser correspondido. Mas quando esse caminho difícil é a escolha de ambos os parceiros, o resultado é a resolução dos problemas à medida em que eles vão surgindo, um relacionamento livre de ressentimentos e mágoas, e o aperfeiçoamento da relação e o crescimento pessoal dos parceiros. Brigar, tolerar ou dialogar, enfim, são escolhas que dependem das prioridades das pessoas: autoafirmar-se a qualquer custo, suportar o outro a contragosto; ou buscar o caminho árduo, mas altamente proveitoso e realizador, da felicidade conjugal.