segunda-feira, 24 de maio de 2010

PERDOAR E PEDIR PERDÃO

Desta vez escreverei sobre um assunto que diz respeito não somente ao casal, mas à família inteira: o perdão na convivência familiar.
Quando era criança, muitas vezes ouvi pessoas citarem um velho e cínico ditado que dizia que “amar” era “nunca ter que pedir perdão”. Eu já digo que é impossível amar sem pedir perdão, ser perdoado e perdoar.
Quando se fala em perdão é muito comum enfatizar-se a necessidade de que a pessoa ofendida perdoe seu(s) agressor(es). É interessante, mas parece que é muito mais fácil ficar sempre do lado do mais forte do que do mais fraco. É sempre mais fácil defender o agressor do que o agredido. Muitas vezes as pessoas chegam mesmo a acusar a parte lesada por não dar o seu perdão a um agressor... que nunca lhe pediu perdão. É muito fácil agredir e depois envolver-se na capa protetora do orgulho e, ao invés de pedir perdão, reivindicá-lo como um direito e, até mesmo – como escrevi acima – acusar o outro por não conceder gratuitamente seu perdão.
É interessante como é comum entre os pais passarem uma vida inteira agredindo um(a) filho(a) e quando chega a velhice e as pessoas precisam ser cuidadas, quererem ser perdoados e cuidados sem nunca pedir perdão. Não estou defendendo que os filhos se vinguem dos pais na velhice, mas quem magoou e feriu deve assumir as conseqüências de seus atos. Daí a necessidade de pedir perdão.
O PERDÃO É A ÁGUA PURA QUE LIMPA AS ENTRANHAS DOS RELACIONAMENTOS E AMORTECE OS ATRITOS ENTRE AS PESSOAS. Ele deve ser dado. Mas, em primeiro lugar, ele deve ser pedido. Pois aqueles que querem receber o perdão sem nunca tê-lo pedido são, na melhor das hipóteses, covardes – frequentemente, hipócritas orgulhosos. São agressores que querem dar o mal e receber o bem sem assumir a devida responsabilidade por suas ações.
Um pedido de perdão sincero é um bálsamo curativo depositado sobre as feridas daqueles que foram ofendidos. Mas é preciso ter coragem e humildade para pedir perdão. Essa é uma tarefa que poucos têm estrutura para assumir. Quantos anos de psicoterapia poderiam ser poupados se os familiares que se agridem pedissem perdão uns aos outros. Quanta dor e quanto sofrimento não poderiam ser aplacados pelas singelas palavras “Me perdoe”, “Desculpe-me”. Mas muito frequentemente os agressores querem assumir o papel de vítimas e, além de agredir, fazer o agredido sentir-se duplamente culpado: por ser agredido (Incrível!) e por não os perdoar gratuitamente.
A estratégia de imputar a culpa pela agressão à vítima deve ser tão antiga quanto o surgimento da linguagem. Para aplacar a própria consciência e não sentir o fio da navalha da autocrítica, muitos dizem “Ele/Ela ME FAZ FICAR ZANGADO E AGREDI-LO(A).” Assim a culpa pela própria agressividade é atribuída ao outro, a raiva é “justificada”, e o agressor pode escapar impune até de sua própria consciência... e ainda reivindicar o “direito” de ser perdoado. E essa hipocrisia parece ser legalizada pela própria sociedade. É conveniente deixar que os fortes subjuguem os fracos, que os agressores se defendam e acusem as vítimas. As pessoas em geral têm medo dos agressores. Por isso é mais seguro ficar do lado deles do que das vítimas. É mais fácil dizer a estas últimas “Perdoem” do que aos primeiros “Peçam perdão”. Como dizem, “a corda costuma romper-se do lado mais fraco”, então é melhor ficar ao lado do mais forte.
Pedir perdão e perdoar significa aceitar conviver com as pessoas e conosco mesmos como somos: imperfeitos. E esta é uma realidade que precisamos aceitar: não tem como ser perfeito para merecer ser amado. Para amar, neste mundo de seres imperfeitos, portanto, a gente precisa pedir perdão e perdoar - para poder conviver bem com os outros... e até consigo mesmo. Perdoemos, então, e, acima de tudo, peçamos perdão. E que a capacidade de pedir perdão seja tão valorizada entre nós quanto a capacidade de perdoar. Pois pedir perdão é um ato que envolve a verdadeira coragem, a verdadeira força – a força moral, a capacidade de perceber e enfrentar as próprias imperfeições.

Nenhum comentário:

Postar um comentário