domingo, 7 de março de 2010

DA IDEALIZAÇÃO À DESILUSÃO

Quando somos sozinhos e sonhamos encontrar um(a) parceiro(a), nós construímos uma imagem ideal de como gostaríamos que ele/ela fosse. Quando encontramos alguém com várias das características dessa imagem, nós nos apaixonamos.
Os primeiros meses de convivência são pura festa: comemoração do encontro dos ideais de ambos os parceiros. À medida que convivemos com a pessoa amada vamos descobrindo, ao longo dos meses ou dos anos, que além das maravilhosas qualidades com que sonhamos nosso(a) parceiro(a) também apresenta características que nos desagradam. Muito frequentemente rotulamos essas características como defeitos e muitas vezes tentamos eliminá-las ou passamos a conviver com elas à base da tolerância. Com o passar do tempo, as percepções dos defeitos na pessoa amada vão, como borrões de tinta, deformando a imagem idealizada que dela tínhamos construído. Dentro de algum tempo, já não reconhecemos no(a) parceiro(a) a pessoa por quem nos apaixonamos. Aí dizemos que o amor acabou e que tudo não passou de uma ilusão.
Ora, todas as pessoas têm características que percebemos como qualidades e outras características que percebemos como defeitos. Cada vez que nos deparamos com aquilo que consideramos um defeito surge a chance de um atrito. Esses momentos de atrito podem ser encarados simplesmente como momentos de decepção, nos quais descobrimos que nem tudo na pessoa amada é como gostaríamos, ficamos insatisfeitos e destruímos parte da imagem idealizada que construímos a princípio. Este é o caminho que vai da idealização à desilusão.
Contudo, esses momentos podem ser vistos, de uma maneira mais adaptativa, como oportunidades de conhecermos melhor a outra pessoa e a nós mesmos, e nos unirmos mais. Cada um dos momentos de atrito se nos apresenta como um problema. E os problemas podem ser considerados como parte de um processo de fracasso ou de desilusão ou como oportunidades que nos permitem avançar na trilha do auto-conhecimento e crescer junto com a outra pessoa. Assim, as pessoas e o relacionamento vão progredindo e se aperfeiçoando cada vez mais com o passar do tempo. A cada passo dado nesta direção, o casal se conhece melhor, a cumplicidade aumenta e os dois podem se descobrir cada vez mais apaixonados um pelo outro.
Buscar soluções para os problemas, despertar potencialidades e descobrir recursos insuspeitos em si mesmo e no outro é a meta. A cada etapa vencida o amor se torna maior e o relacionamento mais compensador. Mas este é o caminho que trilham apenas aqueles que escolhem resolver os problemas e não ignorá-los, jogá-los para debaixo do tapete ou tentar fazê-los desaparecer por meio da manipulação e do controle do outro. Este é o caminho daqueles que escolhem aprender e crescer juntos e assim cultivar a cada dia a paixão e o amor e nunca deixá-los morrer.

Um comentário:

  1. Perfeito! O limite entre a idealização e a desilução é tão tênue, e muitas vezes por falta de conhecimento, experiência, ou coisa que o valha nos perdemos, ou nos permitimos essa perda. Estou adorando! verdadeiras aulas de bem viver! Parabéns por disponibilizar essas várias possibilidades de repensar a relação e não nos deixar perder.

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